Atenção! Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens”.
(Lc 12, 15)
(Lc 12, 15)
O mês vocacional, no qual a Igreja reflete sobre o chamado de Deus, que se manifesta nas diversas formas de serviço na Igreja e no mundo, iniciou com a advertência de Jesus a respeito do perigo das riquezas (cf. Lc 12, 13 – 21, da Liturgia do 18º Domingo do Tempo Comum). No primeiro domingo deste mês vocacional, a Igreja rezou e refletiu o ministério presbiteral, que é uma das vocações específicas. O presbítero, na Igreja, é um homem chamado a congregar as pessoas no amor de Deus, fazendo-as participantes do mistério e da vida divina. Para isto, o presbítero precisa colocar-se a serviço das pessoas no altar do Senhor, no cotidiano da vida dos que sofrem e dos que são excluídos na sociedade.
O mundo atual é marcado pelas riquezas. O mundo sempre foi rico, pois Deus criou tudo para o bem de todos. Tudo o que Deus criou é bom e na bondade das coisas criadas por Deus, também nós, seus filhos e filhas, somos chamados a sermos felizes. Trata-se de uma felicidade que não exclui ninguém. A ganância está na base do conceito atual de felicidade criado pelo homem. Muita gente se considera “feliz” tendo todos os bens necessários à vida mais o supérfluo, enquanto a grande maioria das pessoas deste mundo vive uma vida infeliz, marcada pela fome, miséria e opressão.
A ganância leva as pessoas a agirem de forma criminosa para a manutenção de certo padrão de vida. Trata-se de um sentimento que cega as pessoas levando-as à competição injusta. Não é pequeno o número daqueles que subornam, traficam, mentem, iludem e matam para, assim, conservarem as riquezas. A pistolagem, a sonegação de impostos, a morte de muita gente que fiscaliza e denuncia, o latifúndio etc. são alguns dos meios utilizados por quem se preocupa em conservar os bens ilícitos. São pessoas escravas do dinheiro e do poder corrompido, que vivem para as riquezas e não para a vida.
A posse das riquezas impede que a pessoa seja livre, pois as riquezas alienam e escravizam. Em quem possui riquezas há sempre o sentimento do “quero mais”, ou seja, a pessoa nunca está satisfeita com o que tem, mas quer cada vez mais. O desejo pelos bens é insaciável. Os bens passam a ser o centro das preocupações e da vida da pessoa, impedindo que a mesma viva tranqüila e livremente. A paz e a liberdade são daqueles verdadeiramente despojados, que se utilizam dos bens necessários à vida sem servir ao dinheiro. A paz e a liberdade passam pelo autêntico despojamento.
O mercado, regido pela competição, pelo consumismo e pelo materialismo leva cada vez mais as pessoas ao apego aos bens materiais. As pessoas brigam, se intrigam e até se matam por causa dos bens. Mesmo sabendo que ao morrer não levarão nada consigo, muita gente não desiste das riquezas. Para tais pessoas, a perda das riquezas significa a perda do sentido da vida. Há as que se contentam em “viver” toda a vida comprando e vendendo, pois se “realizam” vivendo assim. Pessoas assim, dificilmente, participarão do Reino de Deus, pois se mostram incapazes de viver a partilha e a solidariedade. No Reino de Deus não há pobres e ricos, mas Deus é tudo em todos. No Reino de Deus, a vida é plenamente digna.
O cristão deve buscar viver na humildade e na simplicidade. Toda espécie de riqueza, principalmente aquela oriunda da injustiça, afasta o cristão da justiça do Reino de Deus. “Buscai, primeiro, o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será acrescentado”, nos diz Jesus em outra ocasião. Assim sendo, o Reino e a sua justiça devem ser o centro da espiritualidade e da vida cristãs. A sociedade atual precisa de pessoas despojadas e empenhadas com a justiça do Reino, pessoas corajosas que ajudem na libertação daqueles que estão dominados pela ganância e pela sede de poder. É preciso despertar o amor (solidariedade) no coração das pessoas.
A palavra de Jesus também tem algo muito pertinente a dizer para aqueles que se dedicam exclusivamente à missão: religiosos/as, diáconos, presbíteros, bispos e todas as demais formas de vida consagrada. Os/as consagrados/as nas Congregações, Institutos e Comunidades de Vida Apostólica tem no voto de pobreza a motivação de se verem livres das riquezas. Viver o voto de pobreza significa apaixonar-se pela missão, sair pelo mundo afora e anunciar o Evangelho de Jesus. Para isto, é preciso despojar-se de tudo aquilo que impede o sair de si mesmo para o encontro e o cuidado com o outro.
Na Igreja, infelizmente, muita gente consagrada e ordenada para o serviço do povo de Deus peca gravemente contra o voto de pobreza. Isto é visível naqueles que se aproveitam da condição religiosa para viver luxuosamente à custa do dinheiro suado do povo doado à Igreja. São pessoas que, ao invés de formarem-se, academicamente, para a vida profissional, terminam caindo na tentação de viver a condição religiosa como mera profissão. São religiosos/as destituídas de espiritualidade comprometida com a justiça, que escandalizam a fé do povo de Deus. Em todas as Igrejas cristãs temos este mal, fruto da ganância e da sede de poder.
O desafio proposto pelo Evangelho é o de viver como Jesus viveu: simples e humildemente. O Evangelho revela que Jesus não tinha onde reclinar a cabeça, dada a sua pobreza. Toda pessoa que aspira seguir Jesus deve aprender com ele a ser simples e humilde na missão. Esta se torna mais leve e autêntica quando vivida na simplicidade e na humildade. Todo o nosso viver se torna mais feliz quando buscamos ser livres para o serviço. Um missionário livre é como um pássaro fora da gaiola: livre para voar. No caso do pássaro, livre para voar para todo lugar habitável; no caso do missionário, livre para ir aonde o Espírito enviar. Fora da liberdade não existe missão.
Ao invés de centralizar sua vida nos bens, o missionário é chamado a viver integralmente da Providência divina. Esta não deixa nada faltar para aquele que confia fielmente. Quem se entrega plenamente ao anúncio da Boa Nova de Jesus recebe constantemente o socorro da divina Providência. Falando para os Padres da Missão (Lazaristas), vejamos o que nos ensina São Vicente de Paulo (1581 – 1660): “Que felicidade estar livre de todos esses devaneios importunos, viver na santa pobreza, tendo Deus como nosso provedor! Sejamos amantes dessa bela virtude. Peçamo-la freqüentemente a Deus” (citado por Pierre Coste – XI, 252).
Para ser ouvida pela sociedade, a Igreja precisa ser uma pobre missionária entre os pobres de nossos dias, a exemplo de Jesus de Nazaré. Peçamos a Deus esta graça.
Tiago de França, Seminarista da Congegação da Missão(Lazaristas)
O mundo atual é marcado pelas riquezas. O mundo sempre foi rico, pois Deus criou tudo para o bem de todos. Tudo o que Deus criou é bom e na bondade das coisas criadas por Deus, também nós, seus filhos e filhas, somos chamados a sermos felizes. Trata-se de uma felicidade que não exclui ninguém. A ganância está na base do conceito atual de felicidade criado pelo homem. Muita gente se considera “feliz” tendo todos os bens necessários à vida mais o supérfluo, enquanto a grande maioria das pessoas deste mundo vive uma vida infeliz, marcada pela fome, miséria e opressão.
A ganância leva as pessoas a agirem de forma criminosa para a manutenção de certo padrão de vida. Trata-se de um sentimento que cega as pessoas levando-as à competição injusta. Não é pequeno o número daqueles que subornam, traficam, mentem, iludem e matam para, assim, conservarem as riquezas. A pistolagem, a sonegação de impostos, a morte de muita gente que fiscaliza e denuncia, o latifúndio etc. são alguns dos meios utilizados por quem se preocupa em conservar os bens ilícitos. São pessoas escravas do dinheiro e do poder corrompido, que vivem para as riquezas e não para a vida.
A posse das riquezas impede que a pessoa seja livre, pois as riquezas alienam e escravizam. Em quem possui riquezas há sempre o sentimento do “quero mais”, ou seja, a pessoa nunca está satisfeita com o que tem, mas quer cada vez mais. O desejo pelos bens é insaciável. Os bens passam a ser o centro das preocupações e da vida da pessoa, impedindo que a mesma viva tranqüila e livremente. A paz e a liberdade são daqueles verdadeiramente despojados, que se utilizam dos bens necessários à vida sem servir ao dinheiro. A paz e a liberdade passam pelo autêntico despojamento.
O mercado, regido pela competição, pelo consumismo e pelo materialismo leva cada vez mais as pessoas ao apego aos bens materiais. As pessoas brigam, se intrigam e até se matam por causa dos bens. Mesmo sabendo que ao morrer não levarão nada consigo, muita gente não desiste das riquezas. Para tais pessoas, a perda das riquezas significa a perda do sentido da vida. Há as que se contentam em “viver” toda a vida comprando e vendendo, pois se “realizam” vivendo assim. Pessoas assim, dificilmente, participarão do Reino de Deus, pois se mostram incapazes de viver a partilha e a solidariedade. No Reino de Deus não há pobres e ricos, mas Deus é tudo em todos. No Reino de Deus, a vida é plenamente digna.
O cristão deve buscar viver na humildade e na simplicidade. Toda espécie de riqueza, principalmente aquela oriunda da injustiça, afasta o cristão da justiça do Reino de Deus. “Buscai, primeiro, o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será acrescentado”, nos diz Jesus em outra ocasião. Assim sendo, o Reino e a sua justiça devem ser o centro da espiritualidade e da vida cristãs. A sociedade atual precisa de pessoas despojadas e empenhadas com a justiça do Reino, pessoas corajosas que ajudem na libertação daqueles que estão dominados pela ganância e pela sede de poder. É preciso despertar o amor (solidariedade) no coração das pessoas.
A palavra de Jesus também tem algo muito pertinente a dizer para aqueles que se dedicam exclusivamente à missão: religiosos/as, diáconos, presbíteros, bispos e todas as demais formas de vida consagrada. Os/as consagrados/as nas Congregações, Institutos e Comunidades de Vida Apostólica tem no voto de pobreza a motivação de se verem livres das riquezas. Viver o voto de pobreza significa apaixonar-se pela missão, sair pelo mundo afora e anunciar o Evangelho de Jesus. Para isto, é preciso despojar-se de tudo aquilo que impede o sair de si mesmo para o encontro e o cuidado com o outro.
Na Igreja, infelizmente, muita gente consagrada e ordenada para o serviço do povo de Deus peca gravemente contra o voto de pobreza. Isto é visível naqueles que se aproveitam da condição religiosa para viver luxuosamente à custa do dinheiro suado do povo doado à Igreja. São pessoas que, ao invés de formarem-se, academicamente, para a vida profissional, terminam caindo na tentação de viver a condição religiosa como mera profissão. São religiosos/as destituídas de espiritualidade comprometida com a justiça, que escandalizam a fé do povo de Deus. Em todas as Igrejas cristãs temos este mal, fruto da ganância e da sede de poder.
O desafio proposto pelo Evangelho é o de viver como Jesus viveu: simples e humildemente. O Evangelho revela que Jesus não tinha onde reclinar a cabeça, dada a sua pobreza. Toda pessoa que aspira seguir Jesus deve aprender com ele a ser simples e humilde na missão. Esta se torna mais leve e autêntica quando vivida na simplicidade e na humildade. Todo o nosso viver se torna mais feliz quando buscamos ser livres para o serviço. Um missionário livre é como um pássaro fora da gaiola: livre para voar. No caso do pássaro, livre para voar para todo lugar habitável; no caso do missionário, livre para ir aonde o Espírito enviar. Fora da liberdade não existe missão.
Ao invés de centralizar sua vida nos bens, o missionário é chamado a viver integralmente da Providência divina. Esta não deixa nada faltar para aquele que confia fielmente. Quem se entrega plenamente ao anúncio da Boa Nova de Jesus recebe constantemente o socorro da divina Providência. Falando para os Padres da Missão (Lazaristas), vejamos o que nos ensina São Vicente de Paulo (1581 – 1660): “Que felicidade estar livre de todos esses devaneios importunos, viver na santa pobreza, tendo Deus como nosso provedor! Sejamos amantes dessa bela virtude. Peçamo-la freqüentemente a Deus” (citado por Pierre Coste – XI, 252).
Para ser ouvida pela sociedade, a Igreja precisa ser uma pobre missionária entre os pobres de nossos dias, a exemplo de Jesus de Nazaré. Peçamos a Deus esta graça.
Tiago de França, Seminarista da Congegação da Missão(Lazaristas)