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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

RESSUREIÇÃO



Observando o povo, que na semana santa, principalmente na sexta feira da paixão, lota as igrejas para celebrar a paixão e a morte de Cristo, comentei:

___Veja Marechal, as pessoas participam com muita piedade e fervor das cerimônias religiosas dessa semana, principalmente da procissão do Senhor morto e do teatro da paixão, encenado pelos jovens.

O Velho Botão reparou na massa que lotava a igreja naquele dia, e argumentou:
___É bonito ver a devoção e o sentimento religioso desse povo, mas é necessário que se tenha olhos e sentimentos de compaixão com o Cristo sofredor e agonizante de hoje.

Fingindo ingenuidade, retruquei:
___Mas Marechal, pelo que sei, Jesus sofreu tudo isso há dois mil anos atrás. Ele até já ressuscitou!

Então o velho Botão apontou-me uma área verde, onde crianças nuas brincavam em uma valeta de esgoto, muito magrinhas aparentando desnutrição, e comentou:
___Pois eu garanto que Jesus continua hoje a percorrer os mesmos caminhos do calvário, nos famintos e miseráveis, que são marginalizados pela sociedade.

___Olha Marechal, acho que você tem razão, o drama do calvário acontece no quotidiano, bem diante do nosso nariz. Mas o que é que se pode fazer, de imediato?

Naquele momento chegou alguns vicentinos, trazendo cestas básicas e guloseimas de chocolate para as crianças, junto com lanches especiais do dia de Páscoa.

___Observe bem o que vai acontecer... --- disse o Botão.

Uma mulher vicentina tomou no colo uma das criancinhas, limpou o nariz, ali mesmo colocou-lhe uma roupinha que alguém havia doado e deu-lhe a comer o lanche e o chocolate, e naquele rostinho marcado pela fome e tristeza abriu-se um belo sorriso. A mãe veio buscá-la toda feliz, portando uma sacola com alguns alimentos repartidos de uma cesta com outra família.

___Jesus acabou de ressuscitar aqui na área verde! Na verdade, sem a prática do amor e caridade para com esses pequenos, as celebrações da Semana Santa correm o risco de se tornarem vazias e sem nenhum sentido. – concluiu Marechal.

O Dreamer