A Campanha da Fraternidade deste ano é uma campanha ecumênica, cujo texto foi produzido pelas Igrejas Cristãs que fazem parte do CONIC ,“Conselho das Igrejas Cristãs do Brasil”. O tema “Economia e Vida” quer propor uma ordem econômica a serviço da vida. Penso não ser ingenuidade pensar que uma boa instituição não funcionará bem se não houver pessoas especialmente movidas pelo amor à vida, à própria e a vida de todos os outros. As leis garantem o mínimo.
O amor dá o máximo. Donde o texto inspirador da CF de 2010: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”(Mt 6,24). Em sua última Encíclica “Caritas in Veritate”, o Santo Padre, Bento XVI nos advertia: “O binômio exclusivo mercado-Estado corrói a sociabilidade, enquanto as formas econômicas solidárias, que encontram o seu melhor terreno na sociedade civil, sem contudo se reduzir a ela, criam sociabilidade. O mercado da gratuidade não existe, tal como não se podem estabelecer por lei comportamentos gratuitos, e todavia tanto o mercado como a política precisam de pessoas abertas ao dom recíproco.”(37). Mas pessoas abertas ao dom recíproco são aquelas que ultrapassaram a fase egocêntrica do próprio desenvolvimento, amadurecidas para o amor.
Todos temos tendência a retornar sobre o próprio EGO, egoísmo, e só mediante um esforço permanente de conversão conseguimos situar-nos no horizonte da reciprocidade. Donde ser a Campanha da Fraternidade um precioso processo de reflexão situado no contexto da quaresma, tempo de preparação para a Páscoa, quando os cristãos celebram a paixão, morte e ressurreição de Cristo. Hoje como nunca a humanidade pode verificar os efeitos destrutivos do egoísmo que infecta as relações humanas gerando estruturas injustas que atentam contra a vida.
A antropologia cristã se apóia em três afirmações fundamentais: a) Deus criou o ser humano para ser feliz na comunhão com Ele, vivendo em comunidade, construindo pelo trabalho um mundo cada vez mais humano, e, depois, participar na eternidade da plenitude de sua vida; b) a humanidade, entretanto, pecou desde o princípio, introduzindo na história a desordem, cuja raiz é a ruptura da relação com o próprio Deus. O pecado destrói a harmonia querida por Deus e se instala dentro do ser humano como um dinamismo que conduz para a morte. Abandonado a si mesmo o ser humano não consegue reconstruir na verdade e na justiça sua vida; c) Deus não abandonou o ser humano: amou tanto o mundo que lhe deu seu Filho Único, Jesus Cristo, como Redentor(cf. Jo 3,16).
A missão redentora de Jesus, Ele a cumpre assumindo nossa condição de pecadores. São Paulo chega ao extremo de afirmar: “aquele que não cometeu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nos tornemos justiça de Deus”( II Cor 5,21). O Papa João Paulo II assim comenta essa passagem: “Para transmitir ao homem o rosto do Pai, Jesus teve não apenas de assumir o rosto do homem, mas de tomar também o « rosto » do pecado” (NMI 55). O profeta Isaias havia anunciado: “Eram na verdade os nossos sofrimentos que ele carregava, eram as nossas dores, que levava às costas. E o povo achava que ele era um castigado, alguém por Deus ferido e massacrado. Mas estava sendo traspassado por causa de nossas rebeldias, estava sendo esmagado por nossos pecados...”(Is 53,4ss). E mais adiante: “com sua experiência, o meu servo, o justo, fará que a multidão se torne justa”(53,11). São Paulo assim descreve o caminho percorrido por Jesus: o Filho “esvaziou-se de si mesmo, assumindo a condição de servo” e “humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte e morte de Cruz”(Cf. Filip 2,6-8). “Por isso, Deus o exaltou acima de tudo” e o fez “Senhor” (2,9-10).
Pelo Espírito Santo o Cristo ressuscitado age em nós. Pela força do Espírito podemos vencer o pecado e refazer em nós a beleza divina que perdemos. A quaresma é tempo de meditar e orar sobre essas coisas. O mundo pode ser diferente em todos os níveis: na vida familiar, na vida social, na política, na economia. Uma cultura nova pode plasmar a convivência humana, a cultura da vida. Mas isso só será possível se houver conversão, volta para Deus. “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”, adverte-nos Jesus. A avareza - o desejo de acumular bens - é idolatria. Produzir bens, sem destruir a natureza, para o bem de todos é ordem divina. “Convertei-vos e crede no evangelho” significa crer na força transformadora do Espírito e empenhar-se na construção de uma ordem econômica onde o que Deus destinou a todos os seres humanos possa realmente chegar a todos os seres humanos. Recordemos a palavra de Bento XVI: “tanto o mercado como a política precisam de pessoas abertas ao dom recíproco.”(37).
Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues
O amor dá o máximo. Donde o texto inspirador da CF de 2010: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”(Mt 6,24). Em sua última Encíclica “Caritas in Veritate”, o Santo Padre, Bento XVI nos advertia: “O binômio exclusivo mercado-Estado corrói a sociabilidade, enquanto as formas econômicas solidárias, que encontram o seu melhor terreno na sociedade civil, sem contudo se reduzir a ela, criam sociabilidade. O mercado da gratuidade não existe, tal como não se podem estabelecer por lei comportamentos gratuitos, e todavia tanto o mercado como a política precisam de pessoas abertas ao dom recíproco.”(37). Mas pessoas abertas ao dom recíproco são aquelas que ultrapassaram a fase egocêntrica do próprio desenvolvimento, amadurecidas para o amor.
Todos temos tendência a retornar sobre o próprio EGO, egoísmo, e só mediante um esforço permanente de conversão conseguimos situar-nos no horizonte da reciprocidade. Donde ser a Campanha da Fraternidade um precioso processo de reflexão situado no contexto da quaresma, tempo de preparação para a Páscoa, quando os cristãos celebram a paixão, morte e ressurreição de Cristo. Hoje como nunca a humanidade pode verificar os efeitos destrutivos do egoísmo que infecta as relações humanas gerando estruturas injustas que atentam contra a vida.
A antropologia cristã se apóia em três afirmações fundamentais: a) Deus criou o ser humano para ser feliz na comunhão com Ele, vivendo em comunidade, construindo pelo trabalho um mundo cada vez mais humano, e, depois, participar na eternidade da plenitude de sua vida; b) a humanidade, entretanto, pecou desde o princípio, introduzindo na história a desordem, cuja raiz é a ruptura da relação com o próprio Deus. O pecado destrói a harmonia querida por Deus e se instala dentro do ser humano como um dinamismo que conduz para a morte. Abandonado a si mesmo o ser humano não consegue reconstruir na verdade e na justiça sua vida; c) Deus não abandonou o ser humano: amou tanto o mundo que lhe deu seu Filho Único, Jesus Cristo, como Redentor(cf. Jo 3,16).
A missão redentora de Jesus, Ele a cumpre assumindo nossa condição de pecadores. São Paulo chega ao extremo de afirmar: “aquele que não cometeu pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nos tornemos justiça de Deus”( II Cor 5,21). O Papa João Paulo II assim comenta essa passagem: “Para transmitir ao homem o rosto do Pai, Jesus teve não apenas de assumir o rosto do homem, mas de tomar também o « rosto » do pecado” (NMI 55). O profeta Isaias havia anunciado: “Eram na verdade os nossos sofrimentos que ele carregava, eram as nossas dores, que levava às costas. E o povo achava que ele era um castigado, alguém por Deus ferido e massacrado. Mas estava sendo traspassado por causa de nossas rebeldias, estava sendo esmagado por nossos pecados...”(Is 53,4ss). E mais adiante: “com sua experiência, o meu servo, o justo, fará que a multidão se torne justa”(53,11). São Paulo assim descreve o caminho percorrido por Jesus: o Filho “esvaziou-se de si mesmo, assumindo a condição de servo” e “humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte e morte de Cruz”(Cf. Filip 2,6-8). “Por isso, Deus o exaltou acima de tudo” e o fez “Senhor” (2,9-10).
Pelo Espírito Santo o Cristo ressuscitado age em nós. Pela força do Espírito podemos vencer o pecado e refazer em nós a beleza divina que perdemos. A quaresma é tempo de meditar e orar sobre essas coisas. O mundo pode ser diferente em todos os níveis: na vida familiar, na vida social, na política, na economia. Uma cultura nova pode plasmar a convivência humana, a cultura da vida. Mas isso só será possível se houver conversão, volta para Deus. “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”, adverte-nos Jesus. A avareza - o desejo de acumular bens - é idolatria. Produzir bens, sem destruir a natureza, para o bem de todos é ordem divina. “Convertei-vos e crede no evangelho” significa crer na força transformadora do Espírito e empenhar-se na construção de uma ordem econômica onde o que Deus destinou a todos os seres humanos possa realmente chegar a todos os seres humanos. Recordemos a palavra de Bento XVI: “tanto o mercado como a política precisam de pessoas abertas ao dom recíproco.”(37).
Dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues