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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Beata Lindalva Justo de Oliveira, virgem e mártir


A história da Igreja está repleta de mulheres que doaram suas vidas no exercício da caridade evangélica até a efusão do sangue. A mulher sempre foi um dos instrumentos mais valiosos de Deus na construção de seu Reino. Deus se serve da generosidade e da coragem de muitas mulheres que se dispõem a servir até as últimas conseqüências. Hoje, mais do que em outras épocas, a presença da mulher na vida eclesial é de fundamental importância. Ai da Igreja se não fosse a disponibilidade de muitas mulheres!

Em 1633, em Paris, na França, juntamente com São Vicente de Paulo, uma grande mulher chamada Santa Luísa de Marillac fundou a Companhia das Filhas da Caridade. Inicialmente, não passavam de pobres mulheres camponesas a serviço dos empobrecidos, dos marginalizados. Não eram freiras nem tinham convento, não eram ricas nem passavam pela formação intelectual, não eram filhas da nobreza nem estavam submetidas ao jugo das riquezas. Eram, simplesmente, pobres camponesas a serviço dos mais pobres entre os pobres.

Em Açu, no Rio Grande do Norte, aqui, no Brasil, no dia 20 de outubro de 1953, nasceu Lindalva Justo de Oliveira. Era filha do senhor João Justo da Fé, que tinha um pequeno sítio onde trabalha, incansavelmente; e de dona Maria Lúcia, doméstica dedicada à criação e educação de seus dezesseis filhos. Lindalva teve uma infância comum, sem anormalidades; cresceu no seio de uma família numerosa e muito religiosa. Aprendeu com os pais a ser piedosa, alegre e serviçal.

Em Natal, RN, morando com o irmão mais velho, Lindalva empregou-se como auxiliar de escritório e deu continuidade aos estudos. Ajudava à mãe e, nas horas vagas, prestava serviços como voluntária num abrigo para idosos, mantido pelas Filhas da Caridade. Ela não pensava em se casar e, pouco tempo depois, tendo iniciado o curso de enfermagem escreveu, em setembro de 1987, à Visitadora Provincial das Filhas da Caridade. Dois meses depois, foi admitida e enviada para fazer o Postulantado na comunidade do Educandário Santa Teresa, em Olinda, PE.

Após ter sido admitida no Seminário (Noviciado), na festa da Virgem do Carmo, no dia 16 de julho de 1989, recebeu o hábito e passou a ser chamada Irmã Lindalva. Terminado o Noviciado, em 26 de janeiro de 1991, foi enviada para o abrigo Dom Pedro II, em Salvador, BA, onde recebeu a missão de cuidar do pavilhão São Francisco, com 40 idosos, situado no primeiro andar do imponente edifício construído no séc. XIX. Além de ser responsável pelo pavilhão São Francisco, Lindalva, sempre que podia, visitava idosos e doentes na periferia da cidade com outras mulheres do Movimento de Voluntárias da Caridade Santa Luísa de Marillac.

Entre os idosos do pavilhão São Francisco, encontrava-se o senhor Augusto da Silva Peixoto, que não era idoso, pois contava, apenas, com 46 anos de idade. Por motivos, estranhamente, políticos este senhor foi acolhido em janeiro de 1993. Com a chegada do mesmo ao abrigo, começaram os problemas para a jovem Irmã Lindalva, que passou a ser assediada pelo mesmo. Diante das ameaças, a Irmã Lindalva reagiu, cautelosamente, avisando às demais Irmãs da Comunidade, assim como às amigas do Movimento de Voluntárias.

“Prefiro que meu sangue se derrame, do que ir embora daqui”, afirmou a Irmã Lindalva durante um recreio da Comunidade. Ela tinha um grande amor pelos idosos e por toda a Comunidade. Recusou-se, terminantemente, a fugir da realidade, dando continuidade ao exercício da caridade evangélica para com os pobres desvalidos. Esta firme, virtuosa e audaciosa coragem da Irmã Lindalva a conduziu para o derramamento de sangue, pois se recusava a satisfazer aos desejos inescrupulosos de seu perseguidor.

No dia 09 de abril de 1993, após ter participado da Via Sacra na Paróquia da Boa Viagem, a Irmã Lindalva se dirigiu ao abrigo para servir o café da manhã aos idosos. No jardim estava sentado Augusto, seu perseguidor. Este, que a esperava, subiu atrás dela, entrou pela porta dos fundos do salão e atacou-a pelas costas a golpes de facão, matando-a. O assassino matou-a com 44 golpes gritando as seguintes palavras: “Nunca cedeu! Está aqui a recompensa”. O criminoso foi julgado e preso, e a Irmã Lindalva foi proclamada Beata no dia 02 de dezembro de 2007. O solene rito de beatificação foi presidido pelo Cardeal José Saraiva Martins, que em nome do Papa Bento XVI veio realizá-lo em Salvador, BA. Foi uma festa linda de ver! Hoje, 7 de janeiro, é o dia escolhido pela Igreja para celebrar a memória do martírio da Beata Lindalva.

O que o martírio da Beata Lindalva diz ao cristão do mundo atual? Certamente, diz muitas coisas. Alegria, coragem e amor aos mais pobres são três qualidades marcantes da personalidade da Beata Lindalva. Para sermos, de fato, cristãos precisamos viver estas três qualidades, que são dons de Deus. Aos tristes, medrosos e aos mergulhados no desamor, a Beata Lindalva ensina que a caridade é o mandamento de Deus. Ela testemunhou com a vida o Cristo ressuscitado. Ela ensina, ainda, que a tristeza, o medo e o desamor tiram a vida do ser humano, desumanizam-no.

O que o martírio da Beata Lindalva diz à Igreja? A resposta é dura, mas tem que ser dada. O martírio desta santa Filha da Caridade recorda à Igreja sua missão fundamental: evangelizar. A Igreja nasceu para evangelizar. A Beata Lindalva foi assassinada no meio dos empobrecidos, ela chama a atenção da Igreja para o amor afetivo e efetivo aos empobrecidos. A partir desta verdade, podemos, acertadamente, afirmar que ela foi uma profetisa da caridade. A caridade é, em si mesma, profética. O sentido da missão da Igreja está no amor que se traduz no serviço aos empobrecidos, que são o rosto sofrido de Jesus de Nazaré. Fora do serviço aos empobrecidos, a Igreja se torna uma pedra de tropeço, uma instituição inútil no meio do mundo, digna do ódio e do desprezo das pessoas. A Beata Lindalva ensina que evangelizar é servir, servir com a palavra e com o suor do rosto.

O testemunho da Beata Lindalva Justo de Oliveira é uma prova amorosa da generosidade e do cuidado de Deus para com os sofredores deste mundo. Quando Jesus afirma no Evangelho que Deus continua trabalhando é porque ele se serve dos braços de pessoas disponíveis para a missão. A Igreja deve glorificar a Deus pelo testemunho desta santa Irmã de Caridade e pedir que o Espírito continue despertando mulheres e homens para o serviço amoroso e fraterno aos empobrecidos, que, na espiritualidade cristã e vicentina são os “nossos mestres e senhores”.


Tiago de França