Padre José Carlos Chacorowski trabalhou, como missionário, em Zaire (hoje República Democrática de Congo) na África, desde 1982 até 1987. Naqueles anos, coloquei na revista “Entre Amigos” uma série de reportagens-memórias sobre fatos mais ou menos recentes do trabalho na Pastoral Rodoviária. Alguns exemplares da revista foram enviados também para Zaire e chegaram às mãos do Padre José Carlos. Convencido da importância da ação missionária nas estradas do Brasil, enviou-me ele uma carta indagando se haveria alguma possibilidade de ele participar também desse trabalho. Viajando sem parar (naquele tempo, estive trabalhando sozinho, já desde 1976, e cheguei a estender, firmemente, a Pastoral Rodoviária nos estados Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul, e, parcialmente, em São Paulo, Mato Grosso, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia, havendo até uma ponta no sul de Goiás [Jataí-GO]); demorei em dar a resposta, mas, depois de alguns meses, escrevi e enviei minha carta-convite.
Quando Padre José Carlos voltou ao Brasil, extenuado pela malária africana, gastou alguns meses em tratamento de saúde até estar razoavelmente disponível para qualquer trabalho pastoral. Numa das passagens minhas por Curitiba-PR, encontrei Padre José Carlos e eu quis saber da disposição dele em se integrar na Pastoral Rodoviária. No meio da conversa, cheguei a entender que ele não tinha recebido a minha carta-convite e imaginou que eu não estivesse interessado na proposta dele. Desfeito o equívoco, combinamos a data em que poderíamos juntos fazer uma viagem-amostra. Com aquela primeira viagem de quase dois meses (uma viagem épica que mereceria um capítulo à parte), Padre José Carlos iniciou uma longa (um pouco mais que 8 anos, entre 1988 e 1996) e frutuosa participação na Pastoral Rodoviária.
Quando é que ele assumiu por sua conta o trabalho pastoral nas estradas do Brasil? Isso aconteceu em dezembro do ano 1988. Aquela viagem pastoral devia ser a segunda de nós dois juntos (então seria ainda uma viagem de aprendizado). Aconteceu, porém, que cai doente (parece que era o caso de infecção urinária) e o médico me proibiu viajar naqueles dias. Pedi ao Padre José Carlos que cumprisse os compromissos por conta própria. Relutou um tanto. Mas, quando lhe arrumei um companheiro de viagem (o Sr. Ângelo, um dos proprietários da rede dos postos de combustíveis e restaurantes “O Cupim”, que ia para Rio Grande do Sul visitar seus familiares e parentes antes do Natal), concordou. Fiz um roteiro detalhado por escrito (com isso, acostumei-me a fazer esses roteiros detalhados por mais de dois anos) e desejei-lhe uma boa viagem. Depois de algumas semanas, voltou radiante. Fez muitas amizades, Ganhou mais experiência no trabalho e aumentou a sua autoconfiança. E o que o alegrava mais foi o fato de ter agora um apelido. Dos caminhoneiros, ganhou um apelido famoso: “Padre Zé-da-Estrada” (com este apelido é lembrado ainda hoje nas estradas do Brasil, apesar de ter deixado de trabalhar na Pastoral Rodoviária em 1996).
Nos primeiros dois anos, o Padre Zé-da-Estrada percorria umas rotas alternativas (eu percorria outras) nos 3 estados sulinos do Brasil, mais o Mato Grosso do Sul e, parcialmente, Mato Grosso e São Paulo. Adquirida a experiência, criou a coragem de enfrentar as estradas da maior parte do Brasil, não atingida ainda pela Pastoral Rodoviária. Com ajuda inicial de um caminhoneiro apelidado de “Polaco-de-Curitiba” e com o acompanhamento fraterno da Irmã Cecília Lopes Manso (da Congregação das Religiosas Missionárias de Nossa Senhora das Dores) durante vários anos, desbravou todas as estradas do Mato Grosso, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, bem como as principais rodovias de Goiás, Tocantins, Pará e de todos os estados nordestinos.
Vou pincelar alguns fatos marcantes daqueles anos que me vêm à memória.
Um daqueles fatos foi a visita ao Brasil do nosso Superior Geral (da Congregação da Missão de São Vicente de Paulo), Pe. Richard McCullen, em 1988. Entre outras atividades imprevistas, ele fez questão de embarcar com o Padre Zé-da-Estrada no caminhão-capela e, depois de dar algumas voltas, expressou-se assim: “Esta é a maior paróquia do mundo e, ao mesmo tempo, o menor centro do trabalho missionário”.
Outro fato marcante foi a compra e a montagem do caminhão-capela que seria usado pelo Padre Zé-da-Estrada (eu tive um caminhão-capela desde 1981; antes disso, tive um automóvel Corcel Belina). Enquanto não tínhamos caminhões-capelas para dois padres, cedi o meu para ele (e eu fazia o trabalho pastoral nas estradas viajando num automóvel Marajó e improvisando as missas campais nos postos de combustíveis e restaurantes rodoviários). Ao mesmo tempo, estávamos juntando dinheiro de ofertas do povo para a compra de outro caminhão. Quando já conseguimos juntar a metade da quantia necessária (depositando-a na caderneta de poupança), veio a época do Collor e ficamos sem aquele dinheiro por dois anos. Graças, porém, à generosidade do povo da estrada e à ajuda fraterna dos católicos da Alemanha, conseguimos um novo caminhão no prazo de um ano (a compra foi feita em Ponta Grossa-PR); compramos também o furgão em Jaraguá do Sul-SC; em seguida, o Padre Zé-da-Estrada, com ajuda de um marceneiro amigo de Araucária-PR, montou a capela dentro do furgão e empenhou-se em instalar todos os recursos disponíveis de som, eletrônica e eletricidade. O caminhão-capela dele ficou perfeito.
Aconteceu também a presença do Padre Zé-da-Estrada em Itaici-SP, na reunião anual de todos os bispos do Brasil (CNBB). - Será que houve alguma forma de premonição naquela presença, já que agora o Padre José Carlos foi nomeado bispo auxiliar de São Luís-MA? - Foi ele então para Itaici-SP, colocou o caminhão-capela no meio do pátio, abriu-o à visitação de quem quisesse fazê-la e colocou-se à disposição de todos os bispos... Não lembro do ano em que aconteceu isso, não lembro de mais outros detalhes. Lembro apenas que, naqueles dias, o Padre-Zé-da-Estrada fez contatos com alguns bispos que lhe valeram nas viagens nos anos posteriores.
Mais um fato marcante foi a adesão do Padre Miguel Staron, CM, à Pastoral Rodoviária em 1993 (em que atua até hoje). Padre Zé-da-Estrada o acolheu, introduziu e acompanhou até que o Padre Miguel se sentisse seguro no trabalho.
Em 1996, o Padre José Carlos foi nomeado Diretor das irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo - Província de Curitiba. Com isso deixou a Pastoral Rodoviária, entregando o caminhão-capela a seu sucessor, Pe. Germano Nalepa, CM, que continua a sua missão nas estradas do Brasil até hoje (sempre junto com o Padre Miguel Staron, CM; e comigo - até o ano 2003). Em um pouco mais de 8 anos, o Padre Zé-da-Estrada visitou a maioria dos estados brasileiros, menos Amapá, Roraima, Amazonas, Rondônia e Acre.
Às vezes, alguém me pergunta se eu seria o fundador da Pastoral Rodoviária no Brasil. Não assumo esse nome. Prefiro outro: iniciador (desde o começo em 1976). E o Padre Zé-da-Estrada? Respondo que ele também é iniciador. Porque foi ele que estendeu a Pastoral Rodoviária para Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte do Brasil. O meu trabalho pioneiro atingiu principalmente o Sul do país e algo mais além disso.
Curitiba, 31 de dezembro de 2010.
Pe. Marian Litewka, CM (Padre Mário)
Quando Padre José Carlos voltou ao Brasil, extenuado pela malária africana, gastou alguns meses em tratamento de saúde até estar razoavelmente disponível para qualquer trabalho pastoral. Numa das passagens minhas por Curitiba-PR, encontrei Padre José Carlos e eu quis saber da disposição dele em se integrar na Pastoral Rodoviária. No meio da conversa, cheguei a entender que ele não tinha recebido a minha carta-convite e imaginou que eu não estivesse interessado na proposta dele. Desfeito o equívoco, combinamos a data em que poderíamos juntos fazer uma viagem-amostra. Com aquela primeira viagem de quase dois meses (uma viagem épica que mereceria um capítulo à parte), Padre José Carlos iniciou uma longa (um pouco mais que 8 anos, entre 1988 e 1996) e frutuosa participação na Pastoral Rodoviária.
Quando é que ele assumiu por sua conta o trabalho pastoral nas estradas do Brasil? Isso aconteceu em dezembro do ano 1988. Aquela viagem pastoral devia ser a segunda de nós dois juntos (então seria ainda uma viagem de aprendizado). Aconteceu, porém, que cai doente (parece que era o caso de infecção urinária) e o médico me proibiu viajar naqueles dias. Pedi ao Padre José Carlos que cumprisse os compromissos por conta própria. Relutou um tanto. Mas, quando lhe arrumei um companheiro de viagem (o Sr. Ângelo, um dos proprietários da rede dos postos de combustíveis e restaurantes “O Cupim”, que ia para Rio Grande do Sul visitar seus familiares e parentes antes do Natal), concordou. Fiz um roteiro detalhado por escrito (com isso, acostumei-me a fazer esses roteiros detalhados por mais de dois anos) e desejei-lhe uma boa viagem. Depois de algumas semanas, voltou radiante. Fez muitas amizades, Ganhou mais experiência no trabalho e aumentou a sua autoconfiança. E o que o alegrava mais foi o fato de ter agora um apelido. Dos caminhoneiros, ganhou um apelido famoso: “Padre Zé-da-Estrada” (com este apelido é lembrado ainda hoje nas estradas do Brasil, apesar de ter deixado de trabalhar na Pastoral Rodoviária em 1996).
Nos primeiros dois anos, o Padre Zé-da-Estrada percorria umas rotas alternativas (eu percorria outras) nos 3 estados sulinos do Brasil, mais o Mato Grosso do Sul e, parcialmente, Mato Grosso e São Paulo. Adquirida a experiência, criou a coragem de enfrentar as estradas da maior parte do Brasil, não atingida ainda pela Pastoral Rodoviária. Com ajuda inicial de um caminhoneiro apelidado de “Polaco-de-Curitiba” e com o acompanhamento fraterno da Irmã Cecília Lopes Manso (da Congregação das Religiosas Missionárias de Nossa Senhora das Dores) durante vários anos, desbravou todas as estradas do Mato Grosso, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, bem como as principais rodovias de Goiás, Tocantins, Pará e de todos os estados nordestinos.
Vou pincelar alguns fatos marcantes daqueles anos que me vêm à memória.
Um daqueles fatos foi a visita ao Brasil do nosso Superior Geral (da Congregação da Missão de São Vicente de Paulo), Pe. Richard McCullen, em 1988. Entre outras atividades imprevistas, ele fez questão de embarcar com o Padre Zé-da-Estrada no caminhão-capela e, depois de dar algumas voltas, expressou-se assim: “Esta é a maior paróquia do mundo e, ao mesmo tempo, o menor centro do trabalho missionário”.
Outro fato marcante foi a compra e a montagem do caminhão-capela que seria usado pelo Padre Zé-da-Estrada (eu tive um caminhão-capela desde 1981; antes disso, tive um automóvel Corcel Belina). Enquanto não tínhamos caminhões-capelas para dois padres, cedi o meu para ele (e eu fazia o trabalho pastoral nas estradas viajando num automóvel Marajó e improvisando as missas campais nos postos de combustíveis e restaurantes rodoviários). Ao mesmo tempo, estávamos juntando dinheiro de ofertas do povo para a compra de outro caminhão. Quando já conseguimos juntar a metade da quantia necessária (depositando-a na caderneta de poupança), veio a época do Collor e ficamos sem aquele dinheiro por dois anos. Graças, porém, à generosidade do povo da estrada e à ajuda fraterna dos católicos da Alemanha, conseguimos um novo caminhão no prazo de um ano (a compra foi feita em Ponta Grossa-PR); compramos também o furgão em Jaraguá do Sul-SC; em seguida, o Padre Zé-da-Estrada, com ajuda de um marceneiro amigo de Araucária-PR, montou a capela dentro do furgão e empenhou-se em instalar todos os recursos disponíveis de som, eletrônica e eletricidade. O caminhão-capela dele ficou perfeito.
Aconteceu também a presença do Padre Zé-da-Estrada em Itaici-SP, na reunião anual de todos os bispos do Brasil (CNBB). - Será que houve alguma forma de premonição naquela presença, já que agora o Padre José Carlos foi nomeado bispo auxiliar de São Luís-MA? - Foi ele então para Itaici-SP, colocou o caminhão-capela no meio do pátio, abriu-o à visitação de quem quisesse fazê-la e colocou-se à disposição de todos os bispos... Não lembro do ano em que aconteceu isso, não lembro de mais outros detalhes. Lembro apenas que, naqueles dias, o Padre-Zé-da-Estrada fez contatos com alguns bispos que lhe valeram nas viagens nos anos posteriores.
Mais um fato marcante foi a adesão do Padre Miguel Staron, CM, à Pastoral Rodoviária em 1993 (em que atua até hoje). Padre Zé-da-Estrada o acolheu, introduziu e acompanhou até que o Padre Miguel se sentisse seguro no trabalho.
Em 1996, o Padre José Carlos foi nomeado Diretor das irmãs Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo - Província de Curitiba. Com isso deixou a Pastoral Rodoviária, entregando o caminhão-capela a seu sucessor, Pe. Germano Nalepa, CM, que continua a sua missão nas estradas do Brasil até hoje (sempre junto com o Padre Miguel Staron, CM; e comigo - até o ano 2003). Em um pouco mais de 8 anos, o Padre Zé-da-Estrada visitou a maioria dos estados brasileiros, menos Amapá, Roraima, Amazonas, Rondônia e Acre.
Às vezes, alguém me pergunta se eu seria o fundador da Pastoral Rodoviária no Brasil. Não assumo esse nome. Prefiro outro: iniciador (desde o começo em 1976). E o Padre Zé-da-Estrada? Respondo que ele também é iniciador. Porque foi ele que estendeu a Pastoral Rodoviária para Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte do Brasil. O meu trabalho pioneiro atingiu principalmente o Sul do país e algo mais além disso.
Curitiba, 31 de dezembro de 2010.
Pe. Marian Litewka, CM (Padre Mário)