Um certo jeito de tomar decisões
São Vicente de Paulo e Santa Luísa de Marillac trabalharam juntos durante 35 anos para melhorar a vida de todos aqueles que sofriam a pobreza e a rejeição pela sociedade e também para fazê-los conhecer o imenso amor de Deus por todos nós.
Diferenças muito evidentes
Vicente de Paulo, um camponês do sul da França, foi criado no seio de uma família amorosa. Luísa de Marillac, uma aristocrata parisiense, foi rejeitada por sua família, por seu nascimento ilegítimo.
Vicente de Paulo, jovem, é empreendedor, lança-se em iniciativas de todo tipo, buscando promover-se e conseguir um bom dinheiro. Luísa de Marillac, jovem, é educada em orfanatos, procurando viver escondida no mosteiro das religiosas capuchinhas.
Vicente de Paulo é um homem de temperamento rural, sabendo esperar: ”Não passar adiante da Providência”. Luísa de Marillac é uma mulher com pressa de chegar ao fim, não tendo medo de contestar a sociedade e a Igreja: é uma Marillac.
Como puderam viver e trabalhar juntos, visto que toda a educação deles e suas personalidades poderiam separá-los? Como chegaram a se entender?
Tanto ele como ela se confrontaram , lá pelos seus 30 anos, com aflitivas perguntas sobre Deus e em relação ao futuro que os esperava. Vicente de Paulo, por volta de 1613, foi fortemente atormentado pelas dúvidas sobre Deus. Então toma consciência do vazio e da inutilidade de sua vida. Luísa de Marillac, por volta de 1623, mergulha numa “noite da alma” ou num período de depressão. Interroga-se sobre sua vida, seu futuro, e começa a duvidar da existência de Deus.
Por meio dessas provações, tomam consciência da bondade de Deus para com eles e desejam consagrar-se aos Pobres. É o que vai reuni-los, o amor de Deus e dos Pobres.
Mas isso não elimina absolutamente nada de suas diferenças. Numerosos fatos nos permitem descobrir as opções às vezes opostas de São Vicente e de Santa Luísa. Ouvi-los e vê-los levando sua vida deveria permitir-nos compreender como puderam engajar-se juntos numa missão de caridade e realizar ações tão importantes.
Alguns fatos da vida
A busca de uma nova Casa-Mãe
Quando da fundação da Companhia das Filhas da Caridade, em novembro de 1633, Santa Luísa acolheu as 5 ou 6 moças que se tinham juntado a ela, em sua própria casa, na paróquia de São Nicolau du Chardonnet. Em 1636, tendo aumentado o número das Irmãs, a pequena comunidade se transferiu para a vila da Chapelle, ao norte de Paris. Quatro anos mais tarde, essa casa ficou pequena demais. Foi preciso, de novo, procurar outra casa. Santa Luísa já tinha uma idéia bem definida. Desde 1632, São Lázaro, no bairro Saint Denis, se tornou a Casa-Mãe dos Padres da Missão. Santa Luísa gostaria que suas filhas fossem viver no mesmo bairro. Mas São Vicente era muito reticente:
"Talvez a senhora pense que tenho algum motivo que lhe diga respeito, pelo qual eu pense que não convém que as senhoras venham morar nesta proximidade. Oh! não, nada disso, posso assegurar-lhe. Mas é o seguinte: vivemos no meio de uma gente que olha tudo e julga tudo. Bastaria que nos vissem entrar três vezes na casa das senhoras que já começariam a falar e a tirar conclusões que não poderíamos dizer até onde chegariam" .
Em setembro de 1640, São Vicente pede às Damas da Caridade que procurem pelas imediações uma casa que possa servir. Em 1º de novembro, São Vicente está muito feliz pelo que lhe propuseram. A casa depende do priorado de São Lázaro, tanto para as taxas locais como para os problemas da justiça. São Vicente então convida Santa Luísa a ir visitar a casa, situada no lugar chamado La Villette.
“Há uma pequena casa em La Villette, com um terreno de um meio hectare, contando com a casa e o pomar, e que pertence à paróquia de La Villette, mas que depende daqui para as rendas e a justiça. É a última da aldeia do lado de lá da igreja, de que não está tão longe como a das senhoras. Falam de quatro ou cinco mil francos. Tem um corpo ou dois de edifícios, com granja e estábulo, no estilo do povo dos campos e tem ventilação por trás e de lado. Só essa está à venda em La Villette. Veja o que lhe parece” .
Santa Luísa foi ver no local. Não temos uma carta sua que comente essa visita, mas acabou recusando essa proposta, pois continuaram procurando outro lugar. Pareceria que dessa vez ela desejava ir além das reticências de São Vicente.
As Damas falam de uma casa no bairro Saint Martin. Em fevereiro, São Vicente a visita e acha muito pequena. Faz seus comentários a Santa Luísa na manhã de 7 de fevereiro:
“Visitei ontem a casa de que lhe falei, no bairro Saint Martin; mas me parece que não é suficiente. Seria bom, como a senhora diz, ter o mais cedo possível uma que lhe pertencesse; mas isso não se encontra tão facilmente. É preciso, entretanto, pegar a primeira que se apresente para alugar” .
Santa Luísa por certo reagiu imediatamente: quer que a casa seja comprada e não apenas alugada. E seguramente sua carta disse, sem meias palavras, sua inquietação e sua impaciência diante da lentidão das providências que se tomavam (não possuímos suas cartas). A resposta de São Vicente não se fez esperar e foi bastante dura:
“Quanto à casa nesta paróquia, é preciso alugar uma, pelo preço que for, esperando a ocasião de poder comprar uma outra, o que não acontece todo dia, como precisamos.
Vejo a senhora sempre um pouco em sentimentos humanos, logo que me vê doente, pensando que tudo está perdido, por falta de uma casa. Ô mulher de pouca fé e de pouca conformidade com o modo de agir e o exemplo de Jesus Cristo! Esse Salvador do mundo, para o governo de toda a Igreja, refere-se a seu Pai para as regras e os arranjos. e, por um punhado de moças que sua Providência notoriamente suscitou e congregou para si, a senhora pensa que ele nos faltará! Vamos, senhorita, humilhe-se profundamente diante de Deus, no amor do qual sou seu servidor, Vicente de Paulo” .
A tensão é forte, mas um e outro vão refletir, esforçando-se por compreender as reações do outro. São Vicente, olhando o essencial da questão, acalma o jogo:
“É preciso continuar a rezar para a questão da casa, em relação à qual não me preocupo tanto, a não ser para arranjar um meio de estabelecer as senhoras por aqui, por meio de um aluguel. Ó Jesus, senhorita! Sua missão não depende de uma casa, mas antes da continuação das bênçãos de Deus sobre a obra” .
Uma nova proposta aparece: A senhora Maretz, que mora na rua Saint Denis, justo em frente de São Lázaro, dispõe de sua pequena propriedade. Faz-se o acordo e o contrato de venda é assinado dia 6 de setembro de 1641:
“Enfim, eis o contrato de compra e o dinheiro já entregue”.
A casa foi comprada por 12 mil libras. A Congregação da Missão se encarregou do pagamento, porque as Filhas da Caridade não dispunham de fundos, naquela ocasião. A Companhia reembolsará a Congregação apenas em 1653.
As diferenças de apreciação sobre a escolha a fazer provocaram explicações francas mas rudes. Essa partilha sem concessões aparentes permitiu chegar a uma solução, acolhida com toda a abertura. O respeito supera as divergências.
O acolhimento de meninos nas escolas e de pensionistas nas casas
As atas das reuniões dos Conselhos da Companhia das Filhas da Caridade apresentam muitas vezes a maneira bem diferente como São Vicente e Santa Luísa consideravam as realidades da missão.
O Conselho de 30 de outubro de 1647 estuda dois problemas. São Vicente, que preside o Conselho, apresenta o primeiro ponto.
“A senhorita Le Gras pergunta se convém que nossas irmãs da cidade e dos campos que têm escolas recebam meninos e meninas e, no caso de receber também os meninos, até que idade os deixarão ficar”.
Primeiro se expõem as razões de Santa Luísa, favorável a receber os meninos: Esses meninos pequenos aprenderão princípios de piedade: será talvez a única instrução que receberão. Porque na maior parte das aldeias não há escolas e professores. Além do mais, os pais desejam que seus filhos recebam pelo menos tanta instrução como as meninas. E é sabido de todos que esses meninos tão pequenos (menos de seis anos) não podem ser motivo de tentação para a professora.
São Vicente desenvolve argumentações totalmente opostas: a mistura de meninos e meninas é proibida tanto por uma ordem do rei como por uma do arcebispo. As Irmãs devem ser as primeiras a cumprir essas ordens. E São Vicente apoia suas palavras lembrando que professores que tinham recebido meninas no meio dos meninos foram condenados a serem queimados vivos.
Pergunta-se o parecer das duas Irmãs que estão participando. uma é a favor, outra é contra. O Padre Lambert, assistente da Congregação, seria antes favorável. Santa Luísa insiste, dizendo que algumas vezes tinha permitido que se aceitassem os meninos, porque por vezes uma menina não pode vir à escola se não traz junto com ela o irmãozinho menor, a mãe não estando em casa para ficar com ele.
Depois de ter apresentado de novo suas razões, São Vicente conclui:
“Será bom que não se recebam esses meninos de modo algum. Somos dois ou três deste parecer. É preciso ficar nisto”.
Santa Luísa deverá, portanto, rever o que autorizou em certas casas.
Em seguida se estuda a questão de saber se as Irmãs podem receber pensionistas em suas casas. Nisso também há grande diferença de pontos de vista entre os dois Fundadores. Santa Luísa vê algumas vantagens: educação das moças, ajuda financeira para as casas pobres. São Vicente vê muitos inconvenientes: comida diferente para essas moças (a das Irmãs parece que é muito pobre!), risco de as Irmãs acabarem mostrando suas dificuldades na vida de comunidade, dificuldades de aliar o controle das pensionistas e a fidelidade à Regra (oração). Apesar da insistência de Santa Luísa, a decisão de São Vicente é formal:
“É preciso ficar assim, não receber nenhuma pensionista em nenhuma casa”.
Santa Luísa terá que transmitir às diversas comunidades esta decisão, sem deixar transparecer que tinha sido de parecer contrário; assim, escreve em maio de 1655 à Irmã Bárbara Angiboust:
“O Padre Vicente sente uma alegria muito especial quando recebe notícias de vocês; ele acha que vocês devem acabar com as pensionistas e diz que as Filhas da Caridade não devem recebê-las. Com efeito, isso foi resolvido, num Conselho que fizemos para tratar de vários assuntos, que não as receberíamos e isso por boas razões” .
Uma decisão tomada depois de uma reflexão em conjunto não pode em seguida ser contestada por um ou outro dos participantes. É indispensável a adesão total a uma decisão do Conselho, decisão tomada após deliberação em comum.
Se é preciso rever a questão, não pode ser resolvida senão após nova reflexão comum. Em 1659, a comunidade de La Fère sentiu a necessidade de receber pensionistas. Santa Luísa responde:
“Quanto às pensionistas, vocês considerem a necessidade e a importância delas, depois me escreverão sobre o que tiverem pensado e perguntarei o que ordena nosso honradíssimo Pe. Vicente e lhes direi” .
Santa Luísa aceita rever uma decisão tomada 12 anos antes. Mas pede às Irmãs que reflitam juntas sobre suas motivações, explicitem seriamente suas motivações e lhe escrevam a respeito. A missão evolui, as respostas devem ser adaptadas. uma decisão tomado num tempo pode ser modificada se as circunstâncias o exigem. Não podemos fixar-nos constantemente no que sempre se fez...
Houve depois reunião do Conselho e reflexão sobre este assunto? É pouco provável, pois a carta de Santa Luísa é do fim de novembro de 1659!
O catecismo de São Roberto Belarmino e as Filhas da Caridade
Nas paróquias, as Filhas da Caridade ensinam o catecismo às meninas. Têm nas mãos um pequeno catecismo redigido por Santa Luísa, em forma de perguntas e respostas. Algumas Irmãs gostariam de ter um conhecimento mais aprofundado de sua fé. O que seria bom propor-lhes?
O Pe. Lambert, da Congregação da Missão, aconselhou o catecismo de São Roberto Belarmino, que Santa Luísa achava muito elevado. Durante o Conselho de março de 1648, debateu-se a questão. Ainda uma vez aparece uma grande diferença de apreciação:
“Não há, senhorita, catecismo melhor que o de Belarmino; e quando todas as Irmãs o soubessem e ensinassem, não ensinariam mais que o que devem ensinar, pois estão aí para instruir e saberiam o que os párocos devem saber” .
E São Vicente vai ainda mais longe. Aconselha vivamente que Santa Luísa leia e explique para as Irmãs esse catecismo de Belarmino.
“Seria bom que alguém o lesse para nossas Irmãs, para que todas o aprendessem e o consultassem para ensinar, porque, como é necessário que mostrem, é necessário que saibam; e não o podem aprender mais solidamente do que nesse livro” .
Opor-se a uma solução e ver-se obrigada a aceitá-la para o bem de todos, tal é a situação que Santa Luísa aceita. Vai esforçar-se por compreender suas vantagens.
Um real e eficaz trabalho de conjunto
Eu gostaria de mostrar, para terminar esta reflexão, como São Vicente e Santa Luísa souberam passar além de suas profundas diferenças. Porque se encontravam frequentemente, isso lhes permitiu tomar consciência de sua própria identidade, descobrir a complementaridade recíproca, ajudar-se a assumir-se plenamente e assim concretizar um trabalho real e eficaz.
Reconhecer-se
Aceitar reconhecer a personalidade daquele ou daquela com quem trabalhamos é muitas vezes difícil. É preciso aceitar ver o outro com suas qualidades e seus defeitos. Isso implica em primeiro lugar conhecer-nos a nós mesmos com nossas riquezas e nossas falhas.
São Vicente e Santa Luísa aprendem pouco a pouco a conhecer-se. Dizem um ao outro o que acham bom e o que acham ruim neles mesmos.
São Vicente muito rapidamente admirou a grande competência de Luísa de Marillac na sua relação com as Senhoras da Caridade. Não hesitou em dizer isso a ela:
“Acho bom tudo o que me conta da Caridade e lhe peço que proponha às Irmãs tudo o que lhe parecer bom para isso e que o ajuste, tanto pelo que me escreveu como pelo que em seguida lhe parecer que é o melhor” .
São Vicente não deixa igualmente de lhe fazer notar um defeito que pode prejudicar sua ação. Santa Luísa partia para visitar uma Confraria com a Senhora Goussault.
“Peço a Nosso Senhor que abençoe a sua viagem e lhe peço que seja muito alegre, mesmo se tivesse que diminuir um pouco essa pequena seriedade que a natureza lhe deu e que a graça faz melhorar” .
São Vicente também dirá à Superiora da Companhia que ela se mostra muito exigente para com as jovens em formação. Vicência chegou de Richelieu e Santa Luísa se queixa que ela é lenta em assimilar o que lhe é dito. São Vicente lhe recomenda a paciência:
“É uma moça muito boa, de bom nome em sua terra, que serviu perseverantemente sua patroa sete ou oito anos. Essa pobre mulher sofre pela ausência dela mais do que se possa dizer. Há espíritos que não se ajustam logo a todas as pequenas regularidades. O tempo dá jeito nisso. Sinto isso todos os dias aqui em nossa casa” .
Santa Luísa tem uma personalidade forte, que se manifesta por sua tenacidade. Quando sente que uma coisa parece ser a vontade de Deus, vai em frente. Então usa uma fórmula muito forte: “Em nome de Deus”. São Vicente está adoentado, ela lhe impõe com vigor que descanse:
“Em nome de Deus, senhor padre, o senhor bem sabe a necessidade que tem de tomar um pouco de tempo para recuperar sua saúde e para tentar conservá-la para o serviço de Deus” .
Com a falta de dinheiro para garantir o sustento das crianças expostas, Santa Luísa clama seu sofrimento e com firmeza suplica a São Vicente que tome uma atitude. Para ela, só há um jeito, não aceitar mais nenhuma criança:
“Em nome de Deus, meu muito reverendo Padre, pense um pouco se não é preciso pensar em dispor essas Damas a deixarem de acolher de novo as crianças expostas... não há meio de resistir à pena que essas pobres pessoas nos causam quando vêm pedir o que lhes é justamente devido... eles estão vendo que estão morrendo de fome e são obrigados a vir de três ou quatro vezes mais longe, sem ter nenhum dinheiro... Perdoe-me, por favor, minhas pequenas importunações...” .
Aceitar a complementaridade
Aceitar a complementaridade é aceitar que o outro venha completar as deficiências que há em nós.
Santa Luísa diz rapidamente o que pensa. Desculpa-se com São Vicente, escrevendo-lhe cartas e pedindo-lhe que responda sem muita demora:
“Perdoe o fato de lhe dizer muito prontamente meus sentimentos” .
Se Santa Luísa reconhece sua rapidez, São Vicente não hesita em constatar que ele é antes lento, por prudência. Um compensa o outro.
“Meu Deus, como a senhorita é feliz por poder corrigir a pressa! As obras que Deus mesmo realiza não fracassam pelo não-agir dos homens. Peço-lhe que tenha essa confiança em Nosso Senhor” .
São Vicente não ousa mandar embora as numerosas pessoas que lhe pedem conselho e ajuda. Reconhece que se deixa envolver por trabalhos demasiados:
“E porque estou até em cima da cabeça pela quantidade de gente para o retiro, um bispo nomeado, um primeiro presidente, dois doutores, um professor de teologia e o Pe. Pavillon, além dos nossos exercícios, tudo isso, lhe digo, me impede de ir vê-la. Por isso, a senhora me enviará, por favor, o relatório de que me falou” .
Mas como Santa Luísa não aceita que ele descure as conferências às Filhas da Caridade, enviar-lhe-á, um ou dois dias antes da data, um pequeno lembrete:
“O senhor bem que nos prometeu a conferência para amanhã, quinta-feira” .
A complementaridade deles vai se afirmando. Cada um traz sua pedra para a construção da obra querida por Deus. Assim aconteceu na redação das Regras para as Filhas da Caridade.
“Eis aí, meu honrado Padre, o que notei; mas, em nome de Deus, não considere nem nossos escritos, nem nossas observações, mas ordene o que julga que Deus pede de nós, acrescentando a isso as máximas e instruções que podem encorajar-nos e nos manter afeiçoadas e exatas na observância de todos os pontos da regra...” .
A santidade não era inata neles. Como aconteceu com todos os santos, essa marcha para a santidade se apoiou na humanidade deles. As confrontações entre eles aos poucos transformaram suas personalidades, aperfeiçoando-as e tornando-as ainda mais admiráveis. As diferenças entre eles se tornaram fonte de riquezas para a missão comum.
São Vicente e Santa Luísa explicarão às Irmãs que devem viver a união entre elas aceitando que sejam diferentes umas das outras. E para as ajudar, dar-lhes-ão como modelo a Santíssima Trindade:
“Recomendo a nossas Irmãs que se lembrem dos avisos do Padre Vicente e especialmente o suportar-se mutuamente e a cordialidade, para honrarem a unidade da divindade na diversidade das pessoas da Santíssima Trindade” .
Perguntas para a reflexão pessoal e nos grupos
1.- Como poderemos fomentar o respeito mútuo entre os membros de cada grupo e entre os diversos ramos da Familia Vicentina?
2. Como tornar o serviço ao pobre o critério de nossa união, apesar de nossas diferenças?
Reflexão por Irmã Elisabeth Charpy, FC, da província da Paris Tradução por Lauro Palú, CM, Província do Rio de Janeiro
São Vicente de Paulo e Santa Luísa de Marillac trabalharam juntos durante 35 anos para melhorar a vida de todos aqueles que sofriam a pobreza e a rejeição pela sociedade e também para fazê-los conhecer o imenso amor de Deus por todos nós.
Diferenças muito evidentes
Vicente de Paulo, um camponês do sul da França, foi criado no seio de uma família amorosa. Luísa de Marillac, uma aristocrata parisiense, foi rejeitada por sua família, por seu nascimento ilegítimo.
Vicente de Paulo, jovem, é empreendedor, lança-se em iniciativas de todo tipo, buscando promover-se e conseguir um bom dinheiro. Luísa de Marillac, jovem, é educada em orfanatos, procurando viver escondida no mosteiro das religiosas capuchinhas.
Vicente de Paulo é um homem de temperamento rural, sabendo esperar: ”Não passar adiante da Providência”. Luísa de Marillac é uma mulher com pressa de chegar ao fim, não tendo medo de contestar a sociedade e a Igreja: é uma Marillac.
Como puderam viver e trabalhar juntos, visto que toda a educação deles e suas personalidades poderiam separá-los? Como chegaram a se entender?
Tanto ele como ela se confrontaram , lá pelos seus 30 anos, com aflitivas perguntas sobre Deus e em relação ao futuro que os esperava. Vicente de Paulo, por volta de 1613, foi fortemente atormentado pelas dúvidas sobre Deus. Então toma consciência do vazio e da inutilidade de sua vida. Luísa de Marillac, por volta de 1623, mergulha numa “noite da alma” ou num período de depressão. Interroga-se sobre sua vida, seu futuro, e começa a duvidar da existência de Deus.
Por meio dessas provações, tomam consciência da bondade de Deus para com eles e desejam consagrar-se aos Pobres. É o que vai reuni-los, o amor de Deus e dos Pobres.
Mas isso não elimina absolutamente nada de suas diferenças. Numerosos fatos nos permitem descobrir as opções às vezes opostas de São Vicente e de Santa Luísa. Ouvi-los e vê-los levando sua vida deveria permitir-nos compreender como puderam engajar-se juntos numa missão de caridade e realizar ações tão importantes.
Alguns fatos da vida
A busca de uma nova Casa-Mãe
Quando da fundação da Companhia das Filhas da Caridade, em novembro de 1633, Santa Luísa acolheu as 5 ou 6 moças que se tinham juntado a ela, em sua própria casa, na paróquia de São Nicolau du Chardonnet. Em 1636, tendo aumentado o número das Irmãs, a pequena comunidade se transferiu para a vila da Chapelle, ao norte de Paris. Quatro anos mais tarde, essa casa ficou pequena demais. Foi preciso, de novo, procurar outra casa. Santa Luísa já tinha uma idéia bem definida. Desde 1632, São Lázaro, no bairro Saint Denis, se tornou a Casa-Mãe dos Padres da Missão. Santa Luísa gostaria que suas filhas fossem viver no mesmo bairro. Mas São Vicente era muito reticente:
"Talvez a senhora pense que tenho algum motivo que lhe diga respeito, pelo qual eu pense que não convém que as senhoras venham morar nesta proximidade. Oh! não, nada disso, posso assegurar-lhe. Mas é o seguinte: vivemos no meio de uma gente que olha tudo e julga tudo. Bastaria que nos vissem entrar três vezes na casa das senhoras que já começariam a falar e a tirar conclusões que não poderíamos dizer até onde chegariam" .
Em setembro de 1640, São Vicente pede às Damas da Caridade que procurem pelas imediações uma casa que possa servir. Em 1º de novembro, São Vicente está muito feliz pelo que lhe propuseram. A casa depende do priorado de São Lázaro, tanto para as taxas locais como para os problemas da justiça. São Vicente então convida Santa Luísa a ir visitar a casa, situada no lugar chamado La Villette.
“Há uma pequena casa em La Villette, com um terreno de um meio hectare, contando com a casa e o pomar, e que pertence à paróquia de La Villette, mas que depende daqui para as rendas e a justiça. É a última da aldeia do lado de lá da igreja, de que não está tão longe como a das senhoras. Falam de quatro ou cinco mil francos. Tem um corpo ou dois de edifícios, com granja e estábulo, no estilo do povo dos campos e tem ventilação por trás e de lado. Só essa está à venda em La Villette. Veja o que lhe parece” .
Santa Luísa foi ver no local. Não temos uma carta sua que comente essa visita, mas acabou recusando essa proposta, pois continuaram procurando outro lugar. Pareceria que dessa vez ela desejava ir além das reticências de São Vicente.
As Damas falam de uma casa no bairro Saint Martin. Em fevereiro, São Vicente a visita e acha muito pequena. Faz seus comentários a Santa Luísa na manhã de 7 de fevereiro:
“Visitei ontem a casa de que lhe falei, no bairro Saint Martin; mas me parece que não é suficiente. Seria bom, como a senhora diz, ter o mais cedo possível uma que lhe pertencesse; mas isso não se encontra tão facilmente. É preciso, entretanto, pegar a primeira que se apresente para alugar” .
Santa Luísa por certo reagiu imediatamente: quer que a casa seja comprada e não apenas alugada. E seguramente sua carta disse, sem meias palavras, sua inquietação e sua impaciência diante da lentidão das providências que se tomavam (não possuímos suas cartas). A resposta de São Vicente não se fez esperar e foi bastante dura:
“Quanto à casa nesta paróquia, é preciso alugar uma, pelo preço que for, esperando a ocasião de poder comprar uma outra, o que não acontece todo dia, como precisamos.
Vejo a senhora sempre um pouco em sentimentos humanos, logo que me vê doente, pensando que tudo está perdido, por falta de uma casa. Ô mulher de pouca fé e de pouca conformidade com o modo de agir e o exemplo de Jesus Cristo! Esse Salvador do mundo, para o governo de toda a Igreja, refere-se a seu Pai para as regras e os arranjos. e, por um punhado de moças que sua Providência notoriamente suscitou e congregou para si, a senhora pensa que ele nos faltará! Vamos, senhorita, humilhe-se profundamente diante de Deus, no amor do qual sou seu servidor, Vicente de Paulo” .
A tensão é forte, mas um e outro vão refletir, esforçando-se por compreender as reações do outro. São Vicente, olhando o essencial da questão, acalma o jogo:
“É preciso continuar a rezar para a questão da casa, em relação à qual não me preocupo tanto, a não ser para arranjar um meio de estabelecer as senhoras por aqui, por meio de um aluguel. Ó Jesus, senhorita! Sua missão não depende de uma casa, mas antes da continuação das bênçãos de Deus sobre a obra” .
Uma nova proposta aparece: A senhora Maretz, que mora na rua Saint Denis, justo em frente de São Lázaro, dispõe de sua pequena propriedade. Faz-se o acordo e o contrato de venda é assinado dia 6 de setembro de 1641:
“Enfim, eis o contrato de compra e o dinheiro já entregue”.
A casa foi comprada por 12 mil libras. A Congregação da Missão se encarregou do pagamento, porque as Filhas da Caridade não dispunham de fundos, naquela ocasião. A Companhia reembolsará a Congregação apenas em 1653.
As diferenças de apreciação sobre a escolha a fazer provocaram explicações francas mas rudes. Essa partilha sem concessões aparentes permitiu chegar a uma solução, acolhida com toda a abertura. O respeito supera as divergências.
O acolhimento de meninos nas escolas e de pensionistas nas casas
As atas das reuniões dos Conselhos da Companhia das Filhas da Caridade apresentam muitas vezes a maneira bem diferente como São Vicente e Santa Luísa consideravam as realidades da missão.
O Conselho de 30 de outubro de 1647 estuda dois problemas. São Vicente, que preside o Conselho, apresenta o primeiro ponto.
“A senhorita Le Gras pergunta se convém que nossas irmãs da cidade e dos campos que têm escolas recebam meninos e meninas e, no caso de receber também os meninos, até que idade os deixarão ficar”.
Primeiro se expõem as razões de Santa Luísa, favorável a receber os meninos: Esses meninos pequenos aprenderão princípios de piedade: será talvez a única instrução que receberão. Porque na maior parte das aldeias não há escolas e professores. Além do mais, os pais desejam que seus filhos recebam pelo menos tanta instrução como as meninas. E é sabido de todos que esses meninos tão pequenos (menos de seis anos) não podem ser motivo de tentação para a professora.
São Vicente desenvolve argumentações totalmente opostas: a mistura de meninos e meninas é proibida tanto por uma ordem do rei como por uma do arcebispo. As Irmãs devem ser as primeiras a cumprir essas ordens. E São Vicente apoia suas palavras lembrando que professores que tinham recebido meninas no meio dos meninos foram condenados a serem queimados vivos.
Pergunta-se o parecer das duas Irmãs que estão participando. uma é a favor, outra é contra. O Padre Lambert, assistente da Congregação, seria antes favorável. Santa Luísa insiste, dizendo que algumas vezes tinha permitido que se aceitassem os meninos, porque por vezes uma menina não pode vir à escola se não traz junto com ela o irmãozinho menor, a mãe não estando em casa para ficar com ele.
Depois de ter apresentado de novo suas razões, São Vicente conclui:
“Será bom que não se recebam esses meninos de modo algum. Somos dois ou três deste parecer. É preciso ficar nisto”.
Santa Luísa deverá, portanto, rever o que autorizou em certas casas.
Em seguida se estuda a questão de saber se as Irmãs podem receber pensionistas em suas casas. Nisso também há grande diferença de pontos de vista entre os dois Fundadores. Santa Luísa vê algumas vantagens: educação das moças, ajuda financeira para as casas pobres. São Vicente vê muitos inconvenientes: comida diferente para essas moças (a das Irmãs parece que é muito pobre!), risco de as Irmãs acabarem mostrando suas dificuldades na vida de comunidade, dificuldades de aliar o controle das pensionistas e a fidelidade à Regra (oração). Apesar da insistência de Santa Luísa, a decisão de São Vicente é formal:
“É preciso ficar assim, não receber nenhuma pensionista em nenhuma casa”.
Santa Luísa terá que transmitir às diversas comunidades esta decisão, sem deixar transparecer que tinha sido de parecer contrário; assim, escreve em maio de 1655 à Irmã Bárbara Angiboust:
“O Padre Vicente sente uma alegria muito especial quando recebe notícias de vocês; ele acha que vocês devem acabar com as pensionistas e diz que as Filhas da Caridade não devem recebê-las. Com efeito, isso foi resolvido, num Conselho que fizemos para tratar de vários assuntos, que não as receberíamos e isso por boas razões” .
Uma decisão tomada depois de uma reflexão em conjunto não pode em seguida ser contestada por um ou outro dos participantes. É indispensável a adesão total a uma decisão do Conselho, decisão tomada após deliberação em comum.
Se é preciso rever a questão, não pode ser resolvida senão após nova reflexão comum. Em 1659, a comunidade de La Fère sentiu a necessidade de receber pensionistas. Santa Luísa responde:
“Quanto às pensionistas, vocês considerem a necessidade e a importância delas, depois me escreverão sobre o que tiverem pensado e perguntarei o que ordena nosso honradíssimo Pe. Vicente e lhes direi” .
Santa Luísa aceita rever uma decisão tomada 12 anos antes. Mas pede às Irmãs que reflitam juntas sobre suas motivações, explicitem seriamente suas motivações e lhe escrevam a respeito. A missão evolui, as respostas devem ser adaptadas. uma decisão tomado num tempo pode ser modificada se as circunstâncias o exigem. Não podemos fixar-nos constantemente no que sempre se fez...
Houve depois reunião do Conselho e reflexão sobre este assunto? É pouco provável, pois a carta de Santa Luísa é do fim de novembro de 1659!
O catecismo de São Roberto Belarmino e as Filhas da Caridade
Nas paróquias, as Filhas da Caridade ensinam o catecismo às meninas. Têm nas mãos um pequeno catecismo redigido por Santa Luísa, em forma de perguntas e respostas. Algumas Irmãs gostariam de ter um conhecimento mais aprofundado de sua fé. O que seria bom propor-lhes?
O Pe. Lambert, da Congregação da Missão, aconselhou o catecismo de São Roberto Belarmino, que Santa Luísa achava muito elevado. Durante o Conselho de março de 1648, debateu-se a questão. Ainda uma vez aparece uma grande diferença de apreciação:
“Não há, senhorita, catecismo melhor que o de Belarmino; e quando todas as Irmãs o soubessem e ensinassem, não ensinariam mais que o que devem ensinar, pois estão aí para instruir e saberiam o que os párocos devem saber” .
E São Vicente vai ainda mais longe. Aconselha vivamente que Santa Luísa leia e explique para as Irmãs esse catecismo de Belarmino.
“Seria bom que alguém o lesse para nossas Irmãs, para que todas o aprendessem e o consultassem para ensinar, porque, como é necessário que mostrem, é necessário que saibam; e não o podem aprender mais solidamente do que nesse livro” .
Opor-se a uma solução e ver-se obrigada a aceitá-la para o bem de todos, tal é a situação que Santa Luísa aceita. Vai esforçar-se por compreender suas vantagens.
Um real e eficaz trabalho de conjunto
Eu gostaria de mostrar, para terminar esta reflexão, como São Vicente e Santa Luísa souberam passar além de suas profundas diferenças. Porque se encontravam frequentemente, isso lhes permitiu tomar consciência de sua própria identidade, descobrir a complementaridade recíproca, ajudar-se a assumir-se plenamente e assim concretizar um trabalho real e eficaz.
Reconhecer-se
Aceitar reconhecer a personalidade daquele ou daquela com quem trabalhamos é muitas vezes difícil. É preciso aceitar ver o outro com suas qualidades e seus defeitos. Isso implica em primeiro lugar conhecer-nos a nós mesmos com nossas riquezas e nossas falhas.
São Vicente e Santa Luísa aprendem pouco a pouco a conhecer-se. Dizem um ao outro o que acham bom e o que acham ruim neles mesmos.
São Vicente muito rapidamente admirou a grande competência de Luísa de Marillac na sua relação com as Senhoras da Caridade. Não hesitou em dizer isso a ela:
“Acho bom tudo o que me conta da Caridade e lhe peço que proponha às Irmãs tudo o que lhe parecer bom para isso e que o ajuste, tanto pelo que me escreveu como pelo que em seguida lhe parecer que é o melhor” .
São Vicente não deixa igualmente de lhe fazer notar um defeito que pode prejudicar sua ação. Santa Luísa partia para visitar uma Confraria com a Senhora Goussault.
“Peço a Nosso Senhor que abençoe a sua viagem e lhe peço que seja muito alegre, mesmo se tivesse que diminuir um pouco essa pequena seriedade que a natureza lhe deu e que a graça faz melhorar” .
São Vicente também dirá à Superiora da Companhia que ela se mostra muito exigente para com as jovens em formação. Vicência chegou de Richelieu e Santa Luísa se queixa que ela é lenta em assimilar o que lhe é dito. São Vicente lhe recomenda a paciência:
“É uma moça muito boa, de bom nome em sua terra, que serviu perseverantemente sua patroa sete ou oito anos. Essa pobre mulher sofre pela ausência dela mais do que se possa dizer. Há espíritos que não se ajustam logo a todas as pequenas regularidades. O tempo dá jeito nisso. Sinto isso todos os dias aqui em nossa casa” .
Santa Luísa tem uma personalidade forte, que se manifesta por sua tenacidade. Quando sente que uma coisa parece ser a vontade de Deus, vai em frente. Então usa uma fórmula muito forte: “Em nome de Deus”. São Vicente está adoentado, ela lhe impõe com vigor que descanse:
“Em nome de Deus, senhor padre, o senhor bem sabe a necessidade que tem de tomar um pouco de tempo para recuperar sua saúde e para tentar conservá-la para o serviço de Deus” .
Com a falta de dinheiro para garantir o sustento das crianças expostas, Santa Luísa clama seu sofrimento e com firmeza suplica a São Vicente que tome uma atitude. Para ela, só há um jeito, não aceitar mais nenhuma criança:
“Em nome de Deus, meu muito reverendo Padre, pense um pouco se não é preciso pensar em dispor essas Damas a deixarem de acolher de novo as crianças expostas... não há meio de resistir à pena que essas pobres pessoas nos causam quando vêm pedir o que lhes é justamente devido... eles estão vendo que estão morrendo de fome e são obrigados a vir de três ou quatro vezes mais longe, sem ter nenhum dinheiro... Perdoe-me, por favor, minhas pequenas importunações...” .
Aceitar a complementaridade
Aceitar a complementaridade é aceitar que o outro venha completar as deficiências que há em nós.
Santa Luísa diz rapidamente o que pensa. Desculpa-se com São Vicente, escrevendo-lhe cartas e pedindo-lhe que responda sem muita demora:
“Perdoe o fato de lhe dizer muito prontamente meus sentimentos” .
Se Santa Luísa reconhece sua rapidez, São Vicente não hesita em constatar que ele é antes lento, por prudência. Um compensa o outro.
“Meu Deus, como a senhorita é feliz por poder corrigir a pressa! As obras que Deus mesmo realiza não fracassam pelo não-agir dos homens. Peço-lhe que tenha essa confiança em Nosso Senhor” .
São Vicente não ousa mandar embora as numerosas pessoas que lhe pedem conselho e ajuda. Reconhece que se deixa envolver por trabalhos demasiados:
“E porque estou até em cima da cabeça pela quantidade de gente para o retiro, um bispo nomeado, um primeiro presidente, dois doutores, um professor de teologia e o Pe. Pavillon, além dos nossos exercícios, tudo isso, lhe digo, me impede de ir vê-la. Por isso, a senhora me enviará, por favor, o relatório de que me falou” .
Mas como Santa Luísa não aceita que ele descure as conferências às Filhas da Caridade, enviar-lhe-á, um ou dois dias antes da data, um pequeno lembrete:
“O senhor bem que nos prometeu a conferência para amanhã, quinta-feira” .
A complementaridade deles vai se afirmando. Cada um traz sua pedra para a construção da obra querida por Deus. Assim aconteceu na redação das Regras para as Filhas da Caridade.
“Eis aí, meu honrado Padre, o que notei; mas, em nome de Deus, não considere nem nossos escritos, nem nossas observações, mas ordene o que julga que Deus pede de nós, acrescentando a isso as máximas e instruções que podem encorajar-nos e nos manter afeiçoadas e exatas na observância de todos os pontos da regra...” .
A santidade não era inata neles. Como aconteceu com todos os santos, essa marcha para a santidade se apoiou na humanidade deles. As confrontações entre eles aos poucos transformaram suas personalidades, aperfeiçoando-as e tornando-as ainda mais admiráveis. As diferenças entre eles se tornaram fonte de riquezas para a missão comum.
São Vicente e Santa Luísa explicarão às Irmãs que devem viver a união entre elas aceitando que sejam diferentes umas das outras. E para as ajudar, dar-lhes-ão como modelo a Santíssima Trindade:
“Recomendo a nossas Irmãs que se lembrem dos avisos do Padre Vicente e especialmente o suportar-se mutuamente e a cordialidade, para honrarem a unidade da divindade na diversidade das pessoas da Santíssima Trindade” .
Perguntas para a reflexão pessoal e nos grupos
1.- Como poderemos fomentar o respeito mútuo entre os membros de cada grupo e entre os diversos ramos da Familia Vicentina?
2. Como tornar o serviço ao pobre o critério de nossa união, apesar de nossas diferenças?
Reflexão por Irmã Elisabeth Charpy, FC, da província da Paris Tradução por Lauro Palú, CM, Província do Rio de Janeiro