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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO APARECIDA E SANTA LUÍSA DE MARILLAC



A festa da Padroeira do Brasil é uma boa ocasião para refletirmos um pouco sobre a devoção mariana no carisma vicentino. Neste texto vamos nos deter em algumas reflexões sobre Maria escritas por Santa Luísa de Marillac.
A Padroeira do Brasil tem por título Nossa Senhora da Conceição Aparecida, pois a imagem encontrada pelos pescadores é uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Certamente, dos quatro dogmas referentes à Maria, o da Imaculada Conceição é o mais conhecido e talvez um dos seus títulos mais populares. Apesar de o dogma ter sido proclamado somente em 1854, no século XV o Papa já havia permitido o ofício e a missa da Imaculada Conceição e mesmo antes disso, esta devoção já era popular entre os católicos. As aparições de Maria à Catarina Labouré (Medalha Milagrosa – 1830) e à Bernadete Soubirous (Lourdes – 1858) fazem referência a esta prerrogativa de Maria.
Na Família Vicentina a devoção a Imaculada Conceição é um traço marcante visto ser uma herança espiritual dos nossos fundadores: São Vicente de Paulo, Santa Luísa de Marillac e o Bem-aventurado Frederico Ozanam. Encontramos em suas vidas e em seus escritos referências a este título de Maria como, por exemplo, a escolha que o fundador da SSVP fez do dia 08 de dezembro, solenidade da Imaculada Conceição, como uma de suas quatro festas regulamentares. A Medalha Milagrosa e a oração ‘Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós’ são mais um sinal de como a Família Vicentina tem um duplo motivo para celebrar a Padroeira do Brasil. Como brasileiros, fazemos parte deste povo que se dirige aos pés da Mãe Aparecida para apresentar suas necessidades, agradecer as graças alcançadas e pedir força para vencer as dificuldades de uma vida dura onde sua dignidade de filhos e filhas de Deus é desconsiderada e, muitas vezes, negada. Como vicentinos inspirados pelos grandes Santos da Caridade, encontramos em Maria, a Imaculada, o modelo de Igreja e de cristãos que queremos ser para servimos os Pobres e, assim, tornarmos o Evangelho vivo em nosso mundo.
Santa Luísa de Marillac, no século XVII, expressava com frequência sua admiração e confiança na Mãe de Deus. Em fidelidade a doutrina católica, a devoção mariana de Santa Luísa é centrada em Jesus, isto é, ela admira e louva Maria, mas sempre reconhecendo que tudo o que nela foi feito e o que ela significa é em função da vida do Filho de Deus.
“Sua Conceição e todas as graças infusas que lhe foram concedidas por causa da escolha que Deus fez dela para sua Mãe, tornaram-na Imaculada em previsão dos méritos da vida de seu Filho” (ELM, p. 785). “Seja eternamente gloriosa essa bela alma escolhida entre milhares e milhões, por sua adesão aos desígnios de Deus!” (ELM, p. 784). Sabemos que o dom da Conceição Imaculada de Maria não a privou de sua liberdade de escolha. Ainda que livre do pecado em função de sua maternidade divina, Deus dá a Maria a possibilidade de aceitar ou não ser a mãe do Salvador; da parte de Deus tudo havia sido feito e preparado para isso, mas havia algo que dependia dela: a adesão. Luísa de Marillac louva Maria que, sendo chamada por Deus para tal missão, decide entregar-se a ela, não colocando obstáculos a ação da graça em sua vida. A graça que Deus lhe concede e a sua decisão de colaborar com ela, levam Maria ao encontro do outro que precisa do seu serviço-missão: Isabel, os pastores pobres de Belém, os noivos de Caná, a comunidade dos seguidores de Jesus. E assim tem sido ao longo da história: Maria se dirige aos pobres e pequenos (camponeses, índios, pastores, pescadores, etc.) para que sejam seus mensageiros a fim de lembrar ao mundo a escolha que seu Filho fez e sua mensagem.
A exemplo da Imaculada, Luísa se vê chamada (e nós também) a não colocar obstáculos a vontade divina, mas deixar-se conduzir a fim de realizar a missão para a qual foi chamada. Aderir aos desígnios de Deus significa entregar-se inteiramente, assumir com responsabilidade e dedicação o projeto que escolhemos. A vida de Santa Luísa não era uma vida centrada nela mesma, ainda quando sofria por causa de seu filho, mas à disposição do serviço dos Pobres onde, como São Vicente, ela se sentia continuando a missão de Jesus.
Aliás, Santa Luísa admira em Maria o modo como ela compartilhou a vida e a missão de Jesus “pelo puro amor que tínheis a Deus e a salvação das almas, pelas quais trabalhastes o resto de vossos dias, à imitação perfeita do Espírito de Jesus, meu Salvador” (ELM, p. 784). Atenta ao que Jesus vivia e ensinava, Maria se mantém aberta a ação do Espírito de Deus que a leva a “renunciar a sua condição de mãe” para tornar-se discípula de seu Filho. Com Jesus, ela vai aprender que buscar a vontade de Deus significa colaborar na realização da vinda do seu Reino, como rezamos no Pai nosso. E um dos sinais do reinado de Deus é “... aos pobres é anunciado o Evangelho” (Lc 7,22). Maria, provavelmente testemunhou isso ao ver o que seu Filho realizava e a multidão de pobres e marginalizados que o seguiam. O evangelista João coloca Maria junto de Jesus em dois momentos muito importantes: no começo de sua vida pública e na sua morte na cruz. Ela compartilhou da alegria da missão, mas também do sofrimento, das dificuldades e da morte e permaneceu sempre fiel. No entanto, Luísa destaca também a maneira como Maria trabalhava pela “salvação das almas”: “à imitação perfeita do Espírito de Jesus”. Precisamos nos lembrar sempre que tudo o que fazemos deve ser feito no Espírito de Jesus e à sua maneira. Algumas vezes, nós planejamos coisas boas, mas elas não são feitas no Espírito de Jesus, isto é, por ele e para ele, muito menos da maneira como ele mesmo espera que vivamos seu Evangelho e façamos nosso serviço dos Pobres. Para Santa Luísa não é suficiente trabalhar por uma causa, é importante também o espírito que nos move a estarmos nela.
“Ao realizar nossas ações, olhemos a Santíssima Virgem e pensemos que a maior honra que lhe possamos tributar é a imitação de suas virtudes” (ELM, p. 899). São Vicente de Paulo ajudou Santa Luísa a purificar suas devoções pessoais e no seu processo de amadurecimento espiritual, ela percebe que a melhor maneira de louvarmos Maria é imitar suas virtudes. Inspirando-nos nelas seremos mais de Deus e realizaremos melhor nossa missão. Não precisamos multiplicar práticas devocionais que muitas vezes cansam e são repetitivas; utilizando as devoções marianas da tradição da nossa Igreja e imitando suas virtudes no nosso cotidiano, estaremos, certamente, cultivando o amor a Maria e honrando-a como nosso Fundadores fizeram e receberemos suas bênçãos para servimos os Pobres, seus filhos amados, nesta terra que lhe é consagrada!


Rezemos:
“Sou toda vossa, Santíssima Virgem, para ser mais perfeitamente de Deus.
Se, pois, vos pertenço, ensinai-me a imitar vossa santa vida, mediante o cumprimento do que Deus quer de mim.
Com toda a humildade reclamo a vossa ajuda; vós que conheceis minha fraqueza,
vede meu coração e dignai suprir com vossas preces o que eu deixar de fazer por minha incapacidade e negligência.
Visto que é de vosso amado Filho, meu Redentor, de quem recebestes as heroicas virtudes que praticastes neste mundo,
uni o espírito de minhas ações à sua santa presença, para a glória de seu santo Amor.
Toda criatura honre vossa grandeza, vos veja como meio seguro de ir a Deus, vos ame de preferência a qualquer outra simples criatura e todas elas vos tributem a glória que mereceis como Filha muito amada do Pai, Mãe do Filho e digna Esposa do Espírito Santo!” (ELM, p. 784).

Irmã Carolina Mureb Santos, FC