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quinta-feira, 15 de julho de 2010

CELEBRANDO SÃO VICENTE E SANTA LUÍSA COM OS POBRES

Alguém poderia imaginar a festa dos 350 anos da morte de São Vicente de Paulo e Santa Luísa de Marillac sem os Pobres? Eles são os santos da Caridade. Ele é o “Pai dos Pobres” e o “Apóstolo da Caridade”. Ela é a santa patrona das Obras Sociais e dos seus agentes. A vida deles foi totalmente dedicada ao serviço dos Pobres. Por isso, naturalmente, os Pobres devem ser incluídos em nossas celebrações.
Até agora, a maioria das pessoas que servimos como Família Vicentina não conhece São Vicente e Santa Luísa. Por quê? Porque a maioria de nós da Família Vicentina raramente dedicou tempo para falar de nossos Fundadores àqueles que visitamos em suas casas ou nos leitos dos hospitais, onde quer que os sirvamos. Vivenciamos nosso carisma ao servir, mas não dizemos às pessoas por que fazemos o que fazemos. Neste ano, especialmente neste ano da celebração, precisamos transmitir às pessoas as histórias de nossos Fundadores. De fato, este ano é o tempo perfeito para anunciar às pessoas que servimos que fazemos o que estamos fazendo, por causa de São Vicente e Santa Luísa. São nossos heróis, os modelos de nossas ações. Precisamos falar-lhes disso, para que os outros também possam enriquecer-se com a realidade da Espiritualidade Vicentina e do Carisma Vicentino.
Entre os muitos grandes homens e mulheres da história, talvez haja para cada um de nós uns poucos ou mesmo só um ou dois que falam a linguagem de nosso coração e nos inspiram. São nossos guias espirituais. Como Vicentinos, temos nossos guias em São Vicente e Santa Luísa. E não seriam guias perfeitos também para os Pobres? A espiritualidade deles é tão atual hoje como no tempo que viveram, no século XVII. São pessoas que falam a linguagem de nosso coração e nos apontam direções. Devemos contar sua história e partilhar sua sabedoria com as pessoas que servimos.
São Vicente disse: “Nossa vocação é (…) abrasar os corações das pessoas, fazer o que fez o Filho de Deus, que veio trazer o fogo à terra para inflamá-la com seu amor. Não basta que eu ame a Deus, se meu próximo também não o ama. Devo amar meu próximo como imagem de Deus e objeto de seu amor… Devo agir de tal modo que as pessoas amem o seu Criador e se amem umas às outras com caridade mútua, pelo amor de Deu, que as amou a tal ponto que entregou seu Filho à morte por amor delas”. Não há melhor caminho para levar as pessoas para Deus do que os exemplos de São Vicente e Santa Luísa. Eles viveram perfeitamente o chamado para levar os corações para Deus. Assim, de novo vemos que este é o tempo perfeito para contar a história deles. É o tempo perfeito para fazer disto uma prioridade para a Família Vicentina.
Santa Luísa disse: “Pede-se mais de nós do que simplesmente ir e vir e dar coisas. Nossas intenções devem ser puras e completamente isentas de interesses pessoais”. Muitos de nós, membros da Família Vicentina vamos e vimos muito apressados, quando servimos. Há tanto para fazer e tanta gente para visitar. Corremos em nosso trabalho de servir, em vez de dedicar-nos totalmente a cada pessoa. Como é bonito quando de fato dedicamos tempo a visitar realmente, de coração aberto e mente livre de distrações ou da compulsão de passar a outra pessoa ou a outro assunto. É assim que contemplamos o rosto de Cristo. Então, em vez de ir e vir e estar preocupados com assuntos de nosso próprio interesse, devemos visitar os Pobres e partilhar com eles sobretudo a história de nossos Fundadores e o modo como nos encorajam a fazer o que fazemos.

POR QUE FAZEMOS O QUE FAZEMOS
Os Pobres devem perguntar-se o que é que nos faz agir assim. Uma Filha da Caridade numa clínica na Índia trocava uma atadura suja e limpava uma ferida infectada de uma mulher com lepra, quando a mulher agradecida lhe perguntou: “Irmã, como é que você pode fazer este serviço?” A Irmã respondeu: “Nossos Fundadores nos ensinaram”. Então pôde explicar que São Vicente de Paulo e Santa Luísa de Marillac ensinaram às Filhas da Caridade que Jesus Cristo está na pessoa dos Pobres. “Eles são nossos mestres e senhores”. A mulher ficou surpresa e honrada.
A maioria dos membros da Família Vicentina “vai e vem”. Escutamos. Agimos. Servimos. Falamos de Deus. Rezamos com as pessoas que visitamos. Fazemos muito. Mas a maioria de nós não diz às pessoas por que fazemos o que estamos fazendo. Não lhes falamos sobre o carisma de nossos Fundadores. E não lhes dizemos que é isso que nos inspira a servir os outros.
Como nos têm ensinado os Responsáveis atuais de nossos grupos, devemos “primeiro fazer e depois ensinar”. Eles nos lembram que São Vicente nos ensinou a fazer isso em todos os nossos serviços aos Pobres. Assim, quando acabamos o serviço que fomos chamados a fazer, temos a ocasião ideal para falar de São Vicente e Santa Luísa, nossos modelos. A mulher que perguntou à Irmã por que estava fazendo o que fazia pôde entender facilmente o que a Irmã lhe respondeu, porque antes havia visto como a Irmã a tinha ajudado. Cada visita a uma casa feita por um membro da Família Vicentina requer em primeiro lugar o serviço. Isso é o que fazemos. Ouvimos as necessidades dos Pobres. Levamos comida. Ajudamos com dinheiro. Damos roupas. Tratamos dos doentes. Atualmente, também estamos buscando respostas para as mudanças das estruturas, ao juntar-nos com os Pobres para ajudá-los a sair da pobreza. Para tudo que os Pobres nos apresentam, procuramos dar respostas. Mas agora façamos um esforço combinado para dar-lhes também o precioso dom do carisma vicentino.

FORMEMO-NOS

Muitos de nós, leigos da Família Vicentina entramos em nossos ramos particulares da Família para ajudar os Pobres, mas nem sempre entendíamos completamente por que estávamos fazendo o que fazíamos. Queríamos simplesmente ajudar os Pobres. Não percebíamos que estávamos servindo “nossos senhores e patrões”. Nem sempre vimos a face de Cristo quando nos sentamos com aquela mãe que luta com três filhos. Não sabíamos do “deixar Deus por Deus”. Mas agora, graças aos recentes esforços de formação da Família Vicentina, muitos de nós já conhecem os elementos básicos da Espiritualidade Vicentina. Entretanto, se queremos abrir amplamente as portas do Carisma Vicentino e convidar os Pobres a juntar-se a nós na celebração da Família Vicentina, devemos preparar-nos para ensinar.
Então, este ano é também o tempo perfeito para que cada um de nós estude as vidas e as palavras de São Vicente e Santa Luísa e reflita sobre elas para nosso próprio crescimento espiritual e para sermos capazes de partilhar esta sabedoria com outros, especialmente com as pessoas que estamos servindo. Para fazer assim, precisamos acreditar no Carisma Vicentino e entendê-lo tão fortemente que não possamos deixar de falar dele a todas as pessoas e de testemunhá-lo. Os Pobres devem ver São Vicente e Santa Luísa em cada um de nós. Frederico Ozanam observou que “um santo patrono não pode ser para uma sociedade como uma simples tabuleta, como os nomes de São Dionísio ou São Nicolau na porta de um bar. Um santo patrono deve ser visto como um tipo com o qual tentamos conformar-nos como ele (São Vicente ou ela, Santa Luísa) se conformou com o tipo divino que é Jesus Cristo” (J. P. Derum, Apostle in a Top Hat, p. 112).

O ANO PERFEITO
Este aniversário dos 350 anos da morte de São Vicente e Santa Luísa é o tempo perfeito para partilharmos a notícia do nosso Carisma com nossos “senhores e patrões” e os convidarmos a virem celebrar com todos os Vicentinos. São Vicente disse que “não fizemos o suficiente por Deus e pelo nosso próximo se ajudamos os pobres doentes apenas dando comida e remédios e se não os assistimos (…) com os serviços espirituais que lhes devemos”. Um dos serviços mais especiais que podemos prestar é ensinar uma pessoa a ser semelhante ou a tornar-se de fato o Jesus de São Vicente e de Santa Luísa de Marillac. Isto é seguir Cristo Evangelizador e Servidor dos Pobres. Como fazemos isso? Pensem nestas idéias:
Partilhar o Carisma com os Pobres. Ao visitarmos uma pessoa ou uma família, reservar alguns minutos extras para falar de São Vicente e Santa Luísa e da Família Vicentina. Falar sobre a vida, a fé e as ações dos Santos.
Preparar material por escrito. Dentro de nosso ramo local da Família Vicentina (conferência, associação ou grupo), providenciar textos simples para distribuir às pessoas que servimos. Pode ser como um cartão dobrado, um fôlder, um folheto, que conte a história dos Fundadores.
Fazer uma celebração local e convidar os Pobres. Planejar uma reunião para celebrar a festa de Santa Luísa e/ou outra para celebrar a festa de São Vicente. Convidar os outros ramos da Família e os que estamos servindo. Preparar uma refeição simples e aproveitar para apresentar os Santos Fundadores com encenações curtas, quadros dramatizados ou materiais audiovisuais.
Convidar os Pobres para serem membros da Família. Perguntar às pessoas que vocês estão servindo, quando apropriado, e também a seus amigos, se têm interesse em tornar-se membros de sua conferência, de sua associação ou de seu grupo. Convidá-los para uma reunião, para poderem decidir-se.
Iniciar um projeto vicentino. Há alguma necessidade em sua comunidade que precisa de atenção? Reunir pessoas da comunidade para discutir essa situação. Envolver os Pobres, homens e mulheres e todos os jovens, em todas as etapas: identificação dos problemas, planejamento, realização e avaliação do projeto. Pensar num Projeto de Mudança de Estruturas. Ler o livro “Sementes de Esperança – Histórias de Mudanças der Estruturas”.

AMPLIAR A FAMÍLIA VICENTINA
Que meio melhor de celebrar os 350 anos da morte de São Vicente e Santa Luísa do que abrir amplamente as portas da Família Vicentina a todos, especialmente aos Pobres? Os Santos não teriam tido outro meio, além de incluir “nossos amos e senhores”. Se fizermos assim, será uma celebração sem igual.
Este é o ano mais perfeito para abrir-nos para a Família, para todos os ramos e os Pobres. Numa reunião da Família Vicentina, nos Camarões, na África, em julho de 2009, foi contada uma história africana que mostra o desejo de Deus de que todos os homens e mulheres possam viver em solidariedade uns com os outros. A história é assim:
Havia uma nuvem, uma grande e bonita nuvem. Na nuvem havia muitas gotas de água. Cada uma tinha um nome. Havia Dignidade, Esperança e Amizade. Havia Gentileza, Simplicidade e Humildade. Havia muitas mais, com nomes igualmente bonitos. E havia Exclusão. Exclusão era muito infeliz. Era arrogante, egocêntrica, impaciente e orgulhosa. Deus tinha dito a todas as gotas de chuva: “Devemos esperar pelo momento justo para chover sobre a terra. Na hora eu vou dizer”. Mas a Exclusão disse: “Não vou esperar coisa nenhuma. Quero atenção. Quero ser reconhecida. Quero fazer uma coisa que seja notada”. E então ela deixou a nuvem e caiu sobre a terra. Plop! Não aconteceu nada. Finalmente, Deus disse às outras gotas de chuva: “É agora! É a hora de chover sobre a terra”. Então, todas as gotas de chuva se soltaram da nuvem e choveram sobre a terra. Houve um barulho muito forte, como uma explosão. Foi seguido de gritos de alegria e felicidade. Havia amor por toda parte. As pessoas viveram felizes depois em solidariedade umas com as outras e deram glória a Deus.
Possa a Família Vicentina crescer em número e em amor, neste ano centenário. Possa a “Exclusão” ficar de fora… Deus abençoe nossos esforços com os Pobres e em favor deles.

Para refletir:
Partilhamos a história de São Vicente, de Santa Luísa e da Família Vicentina com os pobres com quem trabalhamos?

Eugene Smith, Sociedade de São Vicente de Paulo, Estados Unidos