Páginas

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Trezentos e Cinquenta anos de Caridade


“As coisas que Deus quer acontecem no seu tempo.”
(Santa Luiza de Marillac)

Neste ano de 2010, a Igreja Católica comemória o 350º aniversário de morte de dois grandes santos: São Vicente de Paulo (1581-1660) e Santa Luísa de Marillac (1591-1660). A família Vicentina está em festa jubilar.

15 de Março, é o dia da festa canônica de Santa Luíza de Marilac, que em vida foi Mme. Louise de Marillac Le Gras, uma francesa típica do século XVII, nascida em Auvergne, 15 de agosto de 1591e falecida em Paris, 15 de março de 1660. "era filha natural de um ou de uma Marillac, até hoje por nós desconhecido. Foi acolhida pelo chefe da família, Luís de Marillac, que a introduziu, pouco tempo depois de seu nascimento, no melhor convento de Paris (onde eram educadas as filhas da nobreza). Lá, Luísa recebe uma boa formação em letras que lhe será necessária para ser fundadora e Superiora Geral da Companhia. Saberá redigir regulamentos, memórias, escrever cartas e surpreender as senhoras da alta sociedade, apresentar-se diante dos bispos ou administradores civis". ²

Essa mulher foi a Co-fundadora, com Vicente de Paulo da Companhia das Filhas da Caridade, uma das maiores e ativas congregações católicas femininas do mundo, e que tem prestado valisos serviços à humanidade no raio destes 350 anos de existência. São obras das mais variadas: Orfanatos, abrigos para idosos, creches, educandários, colégios, hospitais, administração de Santas Casas, serviços pastorais em paróquias ou áreas missionárias, grupos de jovens, dentre tantas que difícil é enumerá-las.
Louise de Marillac é uma santa relativamente desconhecida no mundo católico. Como São Vicente, ambos não eram dados a êxtases místicos, suas visões de mundo era, de certa forma, racionalista, buscando encontrar Jesus Cristo nos pobres, através de ações “efetivas” de amor, ou seja ações práticas para atenuar a dor dos pobres e suas carências.
Tinha muito em comum com mulheres modernas. Mesmo considerando suas fragilidades, “escrúpulos excessivos” como lhe admoestava Vicente de Paulo, empurrando-a para a ousadia. Ficou viúva jovem, tinha um filho, Michel, problemático, mas, naquele ido século XVII, voltou suas ações, além das obras da caridade, para a dignidade das próprias irmãs de caridade, moças do campo, rudes, até, dando-lhes formação para a lide com os mesmos pobres, num tempo em que às mulheres restavam poucas opções de vida, inventaram (ela e São Vicente) um modelo flexível, alternativo até, do modelo de vida religiosa, que até então restringia-se ao modelo da freira de clausura: A Irmã de Caridade, em cujos fundamentos diz-se que “o claustro são as ruas da cidade” e o “véu a santa modéstia” a cela, um quarto de aluguel. A idéia original deste novo modelo de "irmãs"foi de São Francisco de Sales (1567-1622), juntamente com Santa Joana Francisca de Chantal (1572-1641), "que fundaram a Ordem da Visitação, na qual as irmãs deveriam visitar e socorrer os pobres e doentes. Porém esse projecto foi combatido e retomado somente mais tarde por São Vicente de Paulo", do qual era amigo.³ , mas já tinha precedentes na idade média, em antigas ordens religiosas que já haviam se afastado em demasia da realidade humana.
. "1660 foi um ano de grandes lutos para a Família Vicentina. O Pe. Antoine Portail, primeiro Coirmão de São Vicente de Paulo e primeiro Diretor das Filhas da Caridade, morreu em fevereiro. Santa Luísa de Marillac, sua colaboradora e amiga, morreu em março. Ele mesmo (São Vicente) morrerá em setembro. Embora o nome e a imagem de São Vicente fossem universalmente reconhecidos, já no século XVII, o nome e a imagem de Santa Luísa parecem apagar-se completamente. Só em 1933 ela sairá definitivamente da sombra de São Vicente, para retomar seu lugar ao lado dele, não só como Fundadora das Filhas da Caridade, mas ainda como uma mulher de hoje. Por suas ações e suas palavras, foi capaz de despertar em cada um, em cada uma de nós, o conhecimento de seu próprio valor."¹

O carisma de São vicente de Paulo se funda, sobretudo na caridade, reorganizada no Século XVII. É uma caridade não mais deixada ao indivíduo, mas organizada” . E de fato, a partir da obra de São Vicente, codjuvado por Santa Luíza, as obras de caridade tomam um novo rumo, tanto na história da Franca, como do mundo. De certa maneira, eles, no mundo ocidental são os idealizadores da Assistência Social e das organizações não governamentais, que cuidam dos mais diversos males da sociedade atual.

Em seus escritos, divulgados com mais publicidade, nos anos oitenta do século passado, encontramos uma mulher lúcida, prática, afetiva com suas filhas da caridade, onde se encontra dentre tantas coisas, receitas de remédios caseiros e de alimentos de baixo custo, cuja preocupação é atender com o máximo de presteza e humanidade aos homens e mulheres, sujeitos de suas ações caritativas.


Não obstante sua grande obra, Luísa de Marillac foi beatificada somente no dia 9 de maio de 1920 por Papa Bento XV , e canonizada no dia 11 de março de 1934 por Pio XI, respectivamente 260 e 274 anos após sua morte, o que demonstra uma certa negligência nesse processo canônico. Foi proclamada patrona das Obras Sociais em 1960 pelo papa João XXIII, num reconhecimento de seu grande trabalho e das Filhas da Caridade, ao longo de 300 anos de atividades.

REREFÊNCIAS/CITAÇÕES:

1. Reflexão por Irmã Elisabeth Charpy, FC, da província da Paris e
Irmã Louise Sullivan da província da Albany dos Estados Unidos. Tradução por Lauro Palú, CM, Província do Rio de Janeiro.


2. Informativo São Vicente - Boletim de circulação interna da Província Brasileira da Congregação da Missão. Ano XLII - no. 279, Outubro – dezembro de 2009. Artigo: Artigo publicado em: Echos de la Compagnie, Paris, n. 2, p. 142-152, mars-avril 2009, sob o título: Les Fondateurs: deux vies différentes et parallèles, un même destin. (Tradução: Vinícius Augusto R. Teixeira, C. M.)
3. Site: http://www.tudook.com/portalcatolico/sa_francisco_de_sales.html, em 15 de março de 2010, ás 11:45.
Frances Ryan, John E. Rybolt. Vincent De Paul and Louise De Marillac: Rules, Conferences, and Writings, 1995. Vincentian Studies Institute.
O'Malley Vincent J.. Ordinary Suffering of Extraordinary Saints (Our Sunday Visitor). 2000. p. 92.